sábado, 3 de agosto de 2013

Viagem pitoresca ao Brasil do século XIX

No início do século XIX, o Brasil passava por muitas mudanças, dentre elas muitas estavam ligadas à chegada da família real portuguesa na cidade do Rio de Janeiro. Pressionado pelo conflito entre a França e Inglaterra, D. João VI veio se instalar no Brasil fugindo de Napoleão. Aqui, deu início a uma série de reformas administrativas, socioeconômicas e culturais, tais como o estímulo a novas fábricas, a criação do Museu Nacional, da Biblioteca nacional, e de instituições de ensino.

Este é um momento na história do Brasil em que o país recebia forte influência da cultura européia, o que iria se intensificar ainda mais com a chegada da Missão Artística Francesa ao Brasil, em 1816, liderada por Joachim Lebreton. Dentre os artistas franceses que vieram na Missão estavam Auguste-Henri-Victor Grandjean de Montigny, Nicolas-Antoine Taunay, e o que viria a se tornar mais conhecido na história do Brasil: Jean-Baptiste Debret.



Poucos pintores viajantes receberam tanta atenção da crítica e dos pesquisadores Brasileiros como Debret, além disso, sua obra de é muito conhecida pelo público geral brasileiro pelo fato de não raro ser utilizada como ilustração para livros escolares, aberturas de novelas, fonte visual para carros alegóricos de carnaval e estampas para objetos de uso cotidiano.

Quando chegou ao Brasil, veio como pintor de história da Missão Francesa, portanto esperava realizar pinturas históricas para D. João VI, assim como fazia na França para Napoleão, no entanto o artista realizou poucos trabalhos para a monarquia, sendo que os títulos produzidos jamais foram concretizados em grandes formatos. Em vez disso, ficou responsável pela decoração da cidade do Rio de Janeiro em dias de festas imperiais, e de lecionar pintura histórica na Academia de Belas-Artes, que começou a funcionar em 1826.


Apesar disso, nos tempos que Debret viveu no Brasil, ocupou-se de retratar a vida cotidiana do Rio de Janeiro, e isso incluía os variados tipos sociais que representavam a cena urbana da época: índios, mulatos, mestiços livres, escravos negros, nobres da corte, e até a fauna e flora da região. Todo esse material compõe um grande álbum iconográfico do modo de vida do Rio de Janeiro do Século XIX.

                    Bugres, Província de Santa Catarina.     Jean-Baptiste Debret

Quando retornou à França Debret editou seus trabalhos e publicou entre 1834 e 1839 o livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”. O livro reunia imagens e textos complementares e foi separado em três volumes: o primeiro é uma espécie de descrição dos índios que viviam nessa época, para isso o autor buscou retratar os lugares onde os índios viviam: as matas, detalhando as plantas, objetos indígenas, suas casas e sua aparência; o segundo volume concentra-se nos escravos negros, no trabalho urbano, nos artesãos e nas práticas agrícolas; e no terceiro trata de cenas do cotidiano, as manifestações culturais, festas e tradições populares.  

                                                              Cabloco – Jean Baptiste Debret


Tendo examinado os mais variados aspectos da vida nacional, Debret prestou um serviço inestimável ao Brasil, tamanha é a nossa intimidade com o artista que por vezes nos esquecemos que ele é estrangeiro. No entanto, nem sempre seu talento foi apreciado pelos brasileiros, após a publicação de “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, sua obra não foi vista com grande entusiasmo pela elite carioca. Estudiosos acreditam que o fato está ligado às imagens de Debret sobre a escravidão, que chocavam por mostrar tão abertamente a violência cotidiana daquela sociedade. Longe de um país de democracia racial, as elites locais não viam com bons olhos a mestiçagem, e era exatamente isso que Debret revelava, um país multinétnico em que conviviam monarcas europeus, aristocratas, mestiços livres, índios e escravos africanos, dividindo um mesmo espaço ecompondo um Brasil plural.

 Feitores, Jean Baptiste Debret

Assim como ocorre com a obra produzida pelos artistas da Missão Artística Holandesa de Maurício de Nassau, no Século XVII, o registro iconográfico deixado por Debret serve à contemporaneidade como subsídio para estudos sobre a organização social e étnica da sociedade brasileira do século XIX.

Texto: Bruno Monteiro 

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