quarta-feira, 4 de junho de 2014

Walter Benjamim: um homem do seu e do nosso tempo

Anna Karolina, Vilela Siqueira, Bruno Cézar Gordiano, Fernando Altoé e Nathan Fioresi.

Walter Benjamim (1892-1940) foi ensaísta, crítico literário, filósofo e sociólogo judeu alemão. Como legado o autor deixou, dentre outras contribuições, trabalhos sobre a influência exercida pelos meios técnicos no âmbito da percepção, da arte e da cultura. Uma obra de grande representatividade escrita pelo autor foi A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, ensaio de 1936.


O comentador Detlev Schottker ajuda-nos a compreender mais a fundo o ensaio citado acima e aponta para duas questões centrais suscitadas pelas reflexões de Benjamim desde meados da década de 1920. Primeiro, há que se considerar a difusão do processo da escrita e o impacto público dos textos. O jornal e a revista, por exemplo, sofreram mudanças na virada do século XIX para o XX, com o desenvolvimento das grandes empresas de imprensa. Com isso, essas empresas passaram a orientar-se pelo lucro e sofreram com o processo de massificação das informações veiculadas. A segunda questão incide sobre as mídias visuais de massas e sua influência nas formas de arte e de experiência. Aqui, entra o debate sobre a fotografia e o cinema, que desde a década de 1920 haviam se tornado mídias influentes e meios bem-sucedidos economicamente.

 
Sessão de Cinema na década de 1930. Cine Brasil.

Benjamim, inserido nesse cenário de intensas modificações, propõe em seu ensaio uma reflexão sobre as novas experiências vividas pela modernidade. O cinema falado, por exemplo, quando começa a ser disseminado na década de 1930, alcança um status econômico de grandes proporções. Contudo, a Benjamim interessava não o caráter artístico do cinema, mas as novas formas de experiência da modernidade que nele eram perceptíveis, como a aceleração da sequência de imagens, através de montagens, e suas formas de apresentação. No caso da fotografia, seu interesse residia no aspecto da reprodução de obras existentes através de imagens de uma realidade que não podia ser captada a olho nu.

O título do seu ensaio, A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, pretende indicar a mudança sofrida pela arte por causa da influência técnica. Benjamim utiliza alguns conceitos no ensaio que permitem um melhor entendimento de suas ideias, como o conceito de aura. O autor expõe aquilo que denomina aura na obra de arte e sua destruição mediante o processo de reprodução técnica. No que consiste, então, esse conceito? Benjamim entende a aura como um fenômeno que existe tanto na arte quanto na natureza, caracterizado pela inacessibilidade, autenticidade e originalidade dos objetos e de sua percepção. Com o advento da modernidade e das novas condições de produção, os objetos passam a ser reproduzidos desenfreadamente e tal reprodução acaba por interferir na aura do objeto, ou seja, nos três elementos que determinam sua essência: inacessibilidade, autenticidade e originalidade. Com isso, a reprodução técnica leva à destruição da aura do objeto e provoca alterações na recepção e percepção técnica da obra pelo público consumidor.

As reflexões de Benjamim, por mais que datadas da primeira década do século XX, continuam pertinentes nos dias atuais, quando nos deparamos com um universo tecnológico que evolui a cada dia e que interfere na forma de recepção e percepção da realidade. Através de uma simples navegação na internet podemos “visitar” o interior da Capela Sistina, por exemplo, e desfrutar daquele ambiente fascinador. Ao mesmo tempo nos perguntamos: o que perdemos com a visualização de todas aquelas pinturas pela tela de um computador ou o que ganhamos com sua contemplação a olho nu? Com certeza, o fascínio de estar no interior da Capela Sistina só é possível pela aura que o ambiente carrega, e o alcance total dessa aura não acontece por meio da reprodução virtual daquele lugar.