terça-feira, 22 de abril de 2014

Estética Surrealista em Alejandro Jodorowsky

                                                                                                                                  por Bruno Monteiro

      
O culto ao absurdo e à irracionalidade se tornou uma tendência na arte do início do século XX. Com muitos outros que compartilhavam dessas idéias, Marcel Duchamp lançou o movimento chamado “Dadaismo”. Esta palavra infantil que significa “cavalinho de pau” em francês se adequou bem aos objetivos do movimento dadaísta de mostrar que os valores estabelecidos, morais ou estéticos, haviam perdido seu significado.

Em 1924, surgia como sucessor do Dadaísmo o Surrealismo. Liderados por André Breton, que afirmava através do “Manifesto surrealista”: “Hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para resolver problemas secundários”, ou “A mania incurável de reduzir o desconhecido ao conhecido, ao classificável, só serve para entorpecer cérebros.”  Assim como Salvador Dali, Marx Ernst, e outros adeptos do surrealismo, Breton se utilizava de conceitos da psicanálise para realizar na pintura o “puro automatismo psíquico”, que visa expressar os processos de pensamento livres da razão.

Mais que um movimento estético, o surrealismo é uma forma de enxergar o mundo e um modo de vida para alguns artistas. Poucos pessoas no entanto, incorporam com tanta verdade tais preceitos quanto o cineasta chileno Alejandro Jodoroswky.

                                                             

                                                                  A montanha Sagrada (1973)

A Arte de Jodorowsky, seja no Cinema, Poesia, teatro ou Quadrinhos,  busca libertar-se das exigências da lógica para ir além da consciência cotidiana,  procurando expressar sempre o mundo inconsciente e dos sonhos.

Em seus filmes, Jodorowsky estabelece uma linha de comunicação com o inconsciente, por isso as tentativas de racionalizá-los podem ser frustrantes. O longa “A Montanha Sagrada” (1973), por exemplo,  é um filme em que Jodorowsky  utiliza símbolos míticos para criar um diálogo  com a espiritualidade humana.  No caso, essa espiritualidade aparece desvinculada de instituições religiosas, relacionando-se mais àquilo que é misterioso, invisível e sobrenatural.

Em “A Montanha Sagrada”, um alquimista misterioso (interpretado pelo próprio Jodorowsky) reúne um grupo de pessoas “especiais” e os submete a ritos de natureza mística para se desprenderem da vida mundana. Logo após, o grupo passa a peregrinar até a Montanha Sagrada, onde ali aprenderiam os segredos que os tornariam mestres do mundo.

                                   

                                                                            A Montanha Sagrada (1973)

Assim como os artistas surrealistas faziam  em suas pinturas, Jodorowsky cria cenários delirantes para os filmes, em que a própria realidade parece se desmanchar, ou transformar-se em algo inacreditável, além da imaginação. Fragmentos de puro absurdo e irracionalidade permeiam a narrativa, que nem sempre segue de forma linear.

A maioria dos filmes do  realizador trata de uma personagem em sua jornada de auto conhecimento, uma espécie de caminho do guerreiro. Este caminho que passa pela purificação, descoberta do que está por trás das aparências, e  pela busca incessável de aprimoramento espiritual. Como acontece em “El Topo” (também protagonizado por Jodorowsky), um mestre viaja por  vilarejos dizimados e outros cenários grotescos ajudando as pessoas. Em certo momento esse homem  trajado de preto se depara com figuras misteriosas e decide entrar numa jornada pelo deserto para ser o maior pistoleiro do mundo.

                                         

                                                                                                      El Topo (1970)

Em sua estética alucinada que parece ter se originado do onírico,  Jodorosky apresenta o lado marginalizado da sociedade, deficientes físicos, anões, pessoas andróginas; e também o lado sombrio da sociedade, a crueldade, o horror, e diversas execuções sumárias a pessoas e animais através de rituais religiosos. É certo que muitas imagens causam ojeriza, chocando e desconsertando o espectador.          
                   
                    
                                                                                                          El Topo

O filme mais recente deste cineasta underground é o surrealista “La Danza de la Realidad”. Neste filme Jodorowsky restaura os poderes da imaginação, superando a contradição entre objetividade e subjetividade para trazer à tona as memórias mais profundas de sua infância. O filme é autobiográfico e conta a vida do artista desde criança,  mostrando os seus conflitos com o pai, não sob a ótica da realidade, mas dos sentimentos, característico da maneira surrealista de enxergar o mundo de Jodorowsky.