quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Lygia Pape: Escultora, gravadora e cineasta.

     
Fez parte do Grupo Frente, é uma das criadoras do Manifesto Neoconcreto. Escreveu a trilogia de obras: Livro da Criação, Livro da Arquitetura e Livro do Tempo, na década de 50. Na seguinte, trabalha com roteiro, montagem e direção cinematográficos ao mesmo tempo em que dá início a produção de esculturas em madeira e também dá vida ao Livro-Poema, composto de xilogravuras e claro, poemas.

Em 1971, produz o curta-metragem O Guarda-Chuva Vermelho, sobre o desenhista Oswaldo Goeldi. Na década posterior, é congratulada com uma bolsa de estudo da Fundação Guggenheim.

Ttéias1C

                     

Ttéia1C (2002), nome escolhido em função de fazer alusão a uma teia, é uma obra que simboliza a última etapa da carreira de Lygia Pape e sintetiza as indagações sustentadas durante a carreira dessa artista que é um dos mais significantes nomes da arte nacional a partir da segunda metade do século XX.
Ttéia é o resultado final quando se soma todas as fases da trajetória de Lygia. Desde a primeira, em 1977, com seus alunos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em que propunha a manutenção de fios esticados tendo a natureza como espaço. A segunda, que a artista espalhava panos e malhas por toda a cidade, incluindo prédios e casas. Somente no final da década de 90 é que a obra começou a tomar corpo com o que representa hoje: grandes instalações com fios metalizados ligando elementos da arquitetura, e que em Inhotim, une o teto ao piso.
Pape é reconhecida pela uma grande criatividade que desponta em seus trabalhos ao mesmo tempo em que une elementos como ‘’sensibilidade e humor’’. As obras de Lygia, em sua maioria, foram criadas para despertar no público as mais diversas reações, o que exige um tempo maior de apreciação. Dessa forma, não foram desenvolvidos para serem consumidos com urgência, mas sim com percepções e paciência.








terça-feira, 21 de outubro de 2014

Linda do Rosário – Obra de Adriana Varejão exposta no Centro de Arte Contemporânea Inhotim

                                                                                             Por Ana Luisa Costa 


Adriana Varejão é um dos maiores nomes da arte plástica brasileira contemporânea.
Para os trabalhos tridimensionais, que são fragmentos de arquiteturas, ela partia muitas vezes de fotografias que tirava em canteiros de demolições onde encontrava destroços de paredes ainda cobertas de azulejos. 

 Em 2002, enquanto preparava uma de suas exposições, ela soube pelos jornais que um prédio desabara no centro do Rio. Era um hotel de encontros chamado Linda do Rosário.

Sob os escombros, encontraram 2 dias depois um casal de amantes. De suas ruínas, Adriana tirou o modelo para as obras Linda do Rosário e Linda da Lapa.

O incidente no Hotel Linda do Rosário


“Linda do Rosário” era um prédio de cinco andares, localizado na Rua do Rosário, que caiu na tarde do dia 25 de setembro de 2002. Nesse caso, a tragédia só não foi maior porque foram ouvidos estalos na estrutura cerca de 20 minutos antes do desabamento, possibilitando que os hóspedes e empregados do hotel Linda do Rosário, que funcionava no local, fugissem a tempo. Tudo isso aconteceu devido a uma reforma mal executada em um restaurante no térreo, que abalou a estrutura do prédio, construído há quatro décadas.

No entanto, nem todos escaparam a tempo.

O porteiro do Linda Rosário estava com a mulher na recepção do hotel e, ao som do primeiro estampido, avisou aos demais funcionários que saíssem do prédio imediatamente. No momento em que descia a escada, lembrou das duas pessoas que ocupavam um quarto. ‘Interfonei e cheguei a bater na porta, mas não responderam’, contou.

 Dois dias depois, os bombeiros encontraram dois corpos em meio aos escombros. Ele, professor, tinha 71 anos. Ela, bancária, tinha 47. Seus corpos foram reconhecidos por suas respectivas famílias no dia seguinte.

O filho do professor não quis que o nome do seu pai fosse divulgado, segundo matéria do Terra, “em virtude das circunstâncias que envolveram sua morte, que poderiam denegrir sua imagem”. Uma reportagem publicada no jornal O Dia revelou o motivo desse pedido: a bancária e o professor estariam vivendo um romance secreto, de anos, que acabou sendo revelado por causa do desabamento do hotel Linda do Rosário. Seus corpos foram encontrados nus e abraçados sobre os restos de uma cama. Há quem diga que eles dormiam, ou que talvez decidiram permanecer unidos, sem fugir, cansados de se esconderem.

 Características das obras de Adriana Varejão

 Adriana utiliza a pintura como suporte para a ficção histórica e a exploração de temas como a teatralidade, o desejo e os artifícios presentes no barroco. Em suas obras tridimensionais, rupturas na tela apresentam um interior visceral sangrento, formado de elementos escultóricos ou arquitetônicos. Nos trabalhos recentes, a artista desenvolve ambientes virtuais geometrizados que remetem a açougues, botequins, saunas, piscinas e banheiros, em que retoma questões intrínsecas à pintura como profundidade, espaço e cor. Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor, violência e exuberância. 

No seu trabalho, difícil de classificar disciplinarmente, a carne, o sangue e, sobretudo a pele enquanto lugar que une ou divide interior e exterior, revelado e oculto, ganham com freqüência uma condição metafórica ou transformam-se em imagem forte de uma cultura que traz a violência e o sacrifício inscritos na matriz.

Talvez por isso, o seu horizonte estético seja o de uma beleza sanguínea, capaz de sobrepor erotismo, sublime e morte que, em vez de se apresentarem como elementos contraditórios, se tornam interdependentes.

“Visceral” é um adjetivo que costuma ser empregado para se falar de obras de arte que afetam a nossa sensibilidade de forma vigorosa e impactante. No caso de Adriana Varejão, a palavra ganha também um sentido literal: carne, vísceras e sangue são elementos recorrentes em sua produção, atravessada por questões sobre o corpo, a representação e a História.

Segundo Adriana, a idéia de carne, vísceras e sangue, que se tornaram vocábulos recorrentes em sua obra, surgiram a partir do uso de grande quantidade de tinta sobre a tela que foi naturalmente se tornando um corpo denso e espesso. A partir daí, Adriana passou a explicitar o sentido de corpo, fazendo incisuras e expondo interioridades, tratando a camada externa como pele. Ela pensa sempre em uma historia inscrita sobre um corpo, com diversas camadas dobradas, comprimidas, e muito acúmulo. “Quando vejo uma tela vazia imagino-a tão cheia a ponto de transbordar”.


Exposição Azulejão e Charques 

Realizada no Banco do Brasil de Brasília


Nessa exposição vemos os principais traços das obras de Adriana: Azulejaria mesclada a pedaços de carne e corpos.

"Varal"

                                                       “Pele tatuada à moda de azulejaria”

                                                                                “Heróis”

                                                            “Azulejaria em Carne Viva”

                                                   “América”


Folly

                                                                                           por Thalita Fernandes



Quem tiver o interesse e a oportunidade de visitar Inhotim não pode deixar de conhecer uma das galerias mais agradáveis do lugar. A G-14, Folly, da artista mineira Valeska Soares é um universo maravilhosamente aconchegante e reflexivo. Como escrito na placa de apresentação da obra: “Sua calculada posição, ao final do lago cercada por plantas, remete à uma experiência romântica e também introspectiva.”

Logo na chegada com um caminho recoberto por pedras ornamentais, as quais a sonoridade ao pisar estabelece um contato com o ambiente, é possível observar diversas flores encontradas em jardins residenciais, o que torna o ambiente familiar.

O interior da galeria é escuro e espelhado, tendo ao centro um vídeo projetado com três personagens aparecendo e desaparecendo na leveza de uma dança de salão. Por conta dos espelhos, a imagem vai se desdobrando em todas as paredes, sendo permitido estar em qualquer posição na sala para a dança.

Em determinado momento, você não vai querer mais assistir o vídeo, apenas fechar os olhos e se aprofundar no momento. Ao som de The Look of Love, você se sente em uma das novelas de Manoel Carlos. A vontade de dançar e rodopiar de um lado para o outro é imensa, só precisa ser desinibido.



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A transposição do corpo na arte sensorial de Cardiff e Miller

Por Jéssica Miranda

Em The Murder of Crows (o assassinato dos corvos em uma tradução literal), de 2008, é uma instalação com 98 caixas de som montadas sobre pedestais, distribuídas à maneira de uma orquestra. O espaço contém cadeiras para que o visitante possa se sentar e entrar dentro desse pesadelo. Gerada por técnicas especiais de gravação e de reprodução polifônicas, a obra em áudio emana das caixas de som e é composta por cantigas de ninar, marchas, textos e composições musicais. Um som dá sequência ao outro, evocando uma narrativa onírica. A instalação foi concebida como um filme ou uma peça teatral, mas aqui as imagens e estruturas narrativas são criadas apenas pelo som. Inspirada na gravura de O sono da razão produz monstros (Goya - 1799), que demostra os terrores noturnos, os pesadelos. Entre os intervalos dos diversos sons que são “sentidos” pelo visitante, a voz de Janet Cardiff faz-se ouvir pelo megafone posicionado no centro, recitando sequências de pesadelos. Inhotim disponibilizou aos visitantes, um “roteiro” de tudo que ocorre no espaço, inclusive o relato de Cardiff é traduzido para que haja uma maior compreensão da obra.  A duração de toda a narração e sons tem tempo total de 30 minutos. 
          


Os tons mais escuros são atribuídos às criaturas, tornando-as assustadoras e transmitindo a ideia de assombrações. O escrito presente na mesa que o artista dorme, traz a seguinte inscrição: enquanto a razão dorme, os monstros aproveitam.

Janet Cardiff     
    A artista canadense é formada em fotografia e gravura pela Universidade de Alberta. Em 1983, filma em super 8 com George Miller (seu colega de faculdade, futuro marido e parceiro artístico) The Guardian Angel. É depois dessa experiência que Cardiff inclui em seu trabalho a sequência narrativa e experiências com som e movimento. A artista defini seu trabalho como um “passeio de áudio”.
  Cardiff tem reconhecimento internacional a partir de 1995 e já teve suas obras solos expostas em espaços como o Museu Louisiana na Dinamarca; San Francisco Museum of Modern Art;  National Gallery of Canada (essa uma exposição permanente); Hirshhorn Museum and Sculpture Garden nos EUA; MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York e na Bienal de São Paulo. 

George Bures Miller

   O artista é conterrâneo da esposa e vivem hoje em Berlim, ponto de efervescência artística da Europa. Desde do início da carreira tem criado colaborativamente a esposa, concretizando obras como The Pool Dark ,instalação multimídia que consiste em um quarto mal iluminado, decorado com papelão, tapetes, e coisas efêmeras e artefatos recolhidos, através do qual os visitantes ao se mover, provoca sons que interagem com segmentos musicais, partes de conversas, e pedaços de histórias e Instituto Paradise, um cinema de 16 lugares onde os espectadores assistiram a um filme , onde se tornam testemunhas de um possível crime, transformando o que se passa na tela em algo real.


A experiência

  Nas andanças que Inhotim proporciona, é um contraponto quando se chega ao Galpão Cardiff e Miller. Precisamos sentar e fechar os olhos. Sim, fechar os olhos. É dessa forma que conseguimos sentir de maneira mais profunda tudo que ocorre. Conseguimos imaginar que estranhos à frente de um pelotão de soldados; vemos a areia dançando com o vento, sentimos a brisa do mar, sabemos que existem gaivotas acima das nossas cabeças. Por vezes é preciso abrir os olhos apenas para se ter certeza que não existe ninguém andando ao nosso lado. A experiência é profunda e chega a arrepiar. Por mais que se tenha certeza que estamos à frente de caixas de som, nosso cérebro é bobo e cai facilmente no truque. Essa é a genialidade da obra, levar-nos  a um lugar muito distante de onde nosso corpo físico está, transportando nossa mente e alma para o ponto mais profundo de nosso inconsciente, onde moram nossos pesadelos, medos e angustias.