Não
é raro vermos as propagandas publicitárias exaltando os corpos perfeitos,
eroticamente idealizados. Em verdade, raro é ver o contrário. Diversas marcas
utilizam em suas campanhas modelos, atores e atrizes ícones de beleza e
sensualidade. Na vida real a história é bem diferente. Na sociedade em que
vivemos falar de sexo ainda é tabu.
Segundo
a noção de “corpo dócil” desenvolvida por Foucault, corpo dócil é aquele que
pode ser utilizado e aproveitado eficientemente pelo controle político. Por
muitos anos o Clero exerceu controle sobre as pessoas, recriminando uma das
funções básicas do corpo humano, o sexo. Em outros momentos, os reis e senhores
feudais controlavam seus súditos com constantes ameaças que incidiam sobre seus
corpos.
No
século XXI esse controle tem um viés muito mais econômico. A repressão que
sofremos na sociedade é explorada pela publicidade. Não é polido falar de sexo,
usar roupas “insinuantes” ou verbalizar vocabulário erótico. Somos coibidos no
cotidiano e gritamos por uma válvula de escape. São por essas brechas que as
campanhas fazem sucesso, valorizando corpos “perfeitos” que parecem
objetos sempre a serviço da erotização.
Porém,
é preciso ter em mente que nem sempre a nudez está ligada ao pecado ou ao sexo.
Comumente a nudez tem sido exposta nas ruas por manifestantes no intuito de se
mostrarem como donos de si, donos do próprio corpo. Com o foco em causas como a
luta pelos direitos femininos, direitos dos animais, a fome, dentre muitos
outros problemas, usando a polêmica para denunciar os paradoxos de nossa sociedade.
Este
mesmo paradoxo pode ser bem percebido na forma como a nossa sociedade encara a
nudez e o sexo, valorizando aqueles que têm belos corpos e que se encontram
satisfeitos sexualmente, no entanto o pudor ainda se faz muito presente ao lado
da censura, a exposição dos seios no ato do top-less é proibida em grande parte
do globo, e se por acaso fosse deixado à escolha da mulher despir-se ou não, é
certo que a maioria não irá fazê-lo.
Com
relação ao homem o obstáculo ainda é maior, enquanto a mulher pode exibir suas
curvas em roupas marcadas quando deseja, ou ousar no “decote”, o homem tem
muitas restrições na forma de se vestir. Estilistas tentam inovar buscando
humor, mas as roupas modernas ainda são muito mal vistas entre os homens que
pretendem sempre passar masculinidade e seriedade, se ocorre o contrário,
suspeita-se da masculinidade do indivíduo. A exceção é quando em momento de
relaxamento o homem pode andar sem camisa, mas também não é algo tão frequente,
o pudor reina acima da natureza.
Todos
estes fatores apenas provam o quanto a sociedade se mostra incongruente. O ser
humano nasce nu, logo, é vestido para proteção, e com o crescimento e o passar
da vida busca se adequar através das roupas, uniformes da vida social, para
assim expressar idéias e estereótipos dos quais as roupas são ferramentas. Assim,
prossegue também um distanciamento havendo possibilidade de visão da nudez
apenas do cônjuge e familiares, como filhos ou irmãos.
Há
uma necessidade de velar, tornar o ser humano pudico, controlado, como bem
afirmava Focault, docilizar os corpos, em prol da vida em comunidade. Este é um
dos preços que se pagam pela convivência nem sempre harmoniosa, mas fundamental
ao ser humano.
Texto: Iglia Ferreira, Yane Guadalupe, Cristiele Martins e Matheus Coelho
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