sábado, 31 de agosto de 2013

Arte indígena no Brasil


O conceito de arte foi desenvolvido pela sociedade ocidental, mas não há um consenso até hoje do que seja arte. No Brasil, no período anterior e posterior à chegada dos portugueses, os povos que aqui habitavam desenvolviam diversas manifestações plásticas e culturais que hoje são qualificadas como arte, mesmo diante da possibilidade de nem ter existido um conceito parecido com esse nessa comunidade.

Desde do século XVI, época que os europeus chegaram ao Brasil, há uma grande curiosidade sobre o povo indígena e toda a sua produção, tendo sido considerado por reis e nobres do período como espécimes “raras” e de cultura “exótica”. Denominada arte indígena, tem sido difícil evitar atribuir-lhes qualidades artísticas pelo seu grande apelo plástico, originalidade, pela aura de mistério que cerca essa cultura e pelo caráter místico de seus rituais – elementos que são importantes na definição ocidental de categorias artísticas.


A plasticidade das obras resulta da confluência de concepções coletivas, confeccionadas para uso cotidiano ou ritual, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição dentro da tribo. Os padrões seguidos foram herdados coletivamente, tendo uma pequena variação durante os anos, formando significados estáveis e bem caracterizados e permitindo a diferenciação dos trabalhos realizados pelas tribos. Por se tratar de elementos da representação de toda comunidade, a arte se torna muito diversificada.


As produções indígenas são, em grande maioria, destinadas a algum uso, evidenciando que a arte por si só não era intenção. Tais expressões transcendem as peças exibidas nos museus e feiras (como cuias, cestos, redes, flechas, bancos, esculturas, mantos, cocares) uma vez que o corpo humano é pintado e perfurado, além da presença crucial da dança e da música.


Os materiais utilizados pelos índios eram os que a natureza proporcionavam: madeiras, caroços, fibras, cipós, sementes, resinas, couros e plumas das mais diversas aves.  Essa riqueza de materiais permitiu criações muito amplas.


A arte plumária, assim como a pintura corporal, atinge grande complexidade em termos de cor e desenho, utilizando penas e pigmentos como matéria-prima. A pintura do corpo objetiva enfeitá-lo e também está embasado em algumas crenças, como a defesa de espíritos maus. Além disso, também revelava como estava se sentindo e o que pretendia, sendo uma forma de comunicação.


Cada família e cada tribo desenvolviam padrões de pintura fiéis ao seu modo ser. Em dias comuns essas pinturas poderiam ser simples, mas em festividades e nos combates se mostravam requintadas, cobrindo todo o corpo. Esse tipo de trabalho é função feminina, sendo a mulher responsável por seus filhos e marido.


Assim como arte corporal, a pintura plumária servia para enfeites: mantos, máscaras e cocares passam aos seus portadores elegância e majestade.  A busca da beleza é uma das principais associações dessa arte. A disposição e as cores das penas do cocar não são aleatórias, indicando a posição de chefe dentro do grupo e simbolizando a própria ordenação da vida em uma aldeia.


A musicalidade e a dança são representações muito importantes e únicas na cultura. Os instrumentos confeccionados por eles são utilizados de formas diferenciadas nas tribos, marcando diferentes ritos. As danças também são únicas entre as diferentes comunidades, podendo ser individuais ou em grupos, diferente da maioria das danças ocidentais em pares.

O espetáculo ritual é, entre outras coisas, um autêntico objeto de arte conceitual, reunindo quase todas as artes indígenas, em parte como manifestações de alegria, em parte como expressão dos mitos que regem a existência e produzem o ritual.



 Texto: Isabela Zampier 

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