O
conceito de arte foi desenvolvido pela sociedade ocidental, mas não há um
consenso até hoje do que seja arte. No Brasil, no período anterior e posterior à chegada dos portugueses, os povos que aqui habitavam desenvolviam diversas
manifestações plásticas e culturais que hoje são qualificadas como arte, mesmo
diante da possibilidade de nem ter existido um conceito parecido com esse nessa
comunidade.
Desde
do século XVI, época que os europeus chegaram ao Brasil, há uma grande
curiosidade sobre o povo indígena e toda a sua produção, tendo sido considerado
por reis e nobres do período como espécimes “raras” e de cultura “exótica”. Denominada
arte indígena, tem sido difícil evitar atribuir-lhes qualidades artísticas pelo
seu grande apelo plástico, originalidade, pela aura de mistério que cerca essa
cultura e pelo caráter místico de seus rituais – elementos que são importantes
na definição ocidental de categorias artísticas.
A
plasticidade das obras resulta da confluência de concepções coletivas,
confeccionadas para uso cotidiano ou ritual, podendo haver restrições de acordo
com categorias de sexo, idade e posição dentro da tribo. Os padrões seguidos
foram herdados coletivamente, tendo uma pequena variação durante os anos,
formando significados estáveis e bem caracterizados e permitindo a
diferenciação dos trabalhos realizados pelas tribos. Por se tratar de elementos
da representação de toda comunidade, a arte se torna muito diversificada.
As
produções indígenas são, em grande maioria, destinadas a algum uso,
evidenciando que a arte por si só não era intenção. Tais expressões transcendem
as peças exibidas nos museus e feiras (como cuias, cestos, redes, flechas,
bancos, esculturas, mantos, cocares) uma vez que o corpo humano é pintado e
perfurado, além da presença crucial da dança e da música.
Os
materiais utilizados pelos índios eram os que a natureza proporcionavam:
madeiras, caroços, fibras, cipós, sementes, resinas, couros e plumas das mais
diversas aves. Essa riqueza de materiais
permitiu criações muito amplas.
A
arte plumária, assim como a pintura corporal, atinge grande complexidade em
termos de cor e desenho, utilizando penas e pigmentos como matéria-prima. A
pintura do corpo objetiva enfeitá-lo e também está embasado em algumas crenças,
como a defesa de espíritos maus. Além disso, também revelava como estava se
sentindo e o que pretendia, sendo uma forma de comunicação.
Cada
família e cada tribo desenvolviam padrões de pintura fiéis ao seu modo ser. Em
dias comuns essas pinturas poderiam ser simples, mas em festividades e nos
combates se mostravam requintadas, cobrindo todo o corpo. Esse tipo de trabalho
é função feminina, sendo a mulher responsável por seus filhos e marido.
Assim como arte corporal, a pintura plumária
servia para enfeites: mantos, máscaras e cocares passam aos seus portadores
elegância e majestade. A busca da beleza
é uma das principais associações dessa arte. A disposição e as cores das penas
do cocar não são aleatórias, indicando a posição de chefe dentro do grupo e
simbolizando a própria ordenação da vida em uma aldeia.
A
musicalidade e a dança são representações muito importantes e únicas na
cultura. Os instrumentos confeccionados por eles são utilizados de formas
diferenciadas nas tribos, marcando diferentes ritos. As danças também são
únicas entre as diferentes comunidades, podendo ser individuais ou em grupos,
diferente da maioria das danças ocidentais em pares.
O
espetáculo ritual é, entre outras coisas, um autêntico objeto de arte
conceitual, reunindo quase todas as artes indígenas, em parte como
manifestações de alegria, em parte como expressão dos mitos que regem a
existência e produzem o ritual.
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