terça-feira, 30 de julho de 2013

Música e interatividade na teledramaturgia

Se existisse um catálogo, um livro ou um filme sobre as "grandes mudanças do século XXI", a forma com a qual assistimos televisão certamente estaria entre uma dessas mudanças. Nos dias atuais, é comum observarmos uma maior interação televisão versus telespectador, seja pelo controle remoto, seja por outra tela - a do computador, tablet, celular e por aí vai. Redes sociais (Facebook e Twitter, em especial) explodem de comentários sobre jogos, lutas, filmes e novelas, todos os dias.


Há ainda, dentre vários, dois outros tipos de interatividade.

Um deles é a aparição, na TV, dos comentários dos telespectadores na internet. Em transmissões de jogos, por exemplo, é recorrente vermos uma pergunta enviada para o narrador via internet. Diariamente, também podemos ver diversos tweets (as mensagens enviadas pelo Twitter) no canto inferior da tela de algum programa, como o famoso Vídeo Show, da Rede Globo.



O outro tipo de interação, peça-chave do post, mistura ainda mais o que está sendo transmitido com quem está assistindo, o receptor acaba por mergulhar e participar de uma forma muito ampla e direta na história do emissor. É o caso das recentes novelas das 19h da também Rede Globo. Em um formato completamente diferente do que estávamos acostumados a ver nas novelas do horário, “Cheias de Charme” e a atual “Sangue Bom” misturam ficção, realidade, interatividade e música. Se uma boa trilha sonora já garante destaque em uma novela “comum”, aqui ela tem quase o papel principal, principalmente em “Cheias de Charme”.

A novela contou a história de como três empregadas domésticas alcançaram a fama da noite pro dia, após um vídeo pessoal vazado na internet. No vídeo em questão, Maria do Rosário (Leandra Leal), Maria da Penha (Taís Araújo) e Maria Aparecida (Isabelle Drummond) aparecem cantando e fazendo caras e bocas em cada cômodo da casa da hilária Chayene (Cláudia Abreu). “Vida de Empreguete” (assista abaixo) hoje conta com mais de 3 milhões de visualizações no Youtube e foi sucesso não só na teledramaturgia, como também fora dela. No capítulo em que o vídeo caiu na internet, a própria novela fez o convite para os telespectadores irem assistir o clipe no site oficial. E assim se seguiu até o fim da história, como se nós, telespectadores, estivéssemos sentindo um pouquinho do sucesso das três Marias mais amadas do Brasil na vida real, ao vivo e a cores.



Paródias foram criadas, jingles para campanhas políticas e, ainda, a trama fez deslanchar o tecnobrega Brasil afora. Também conhecido como eletroforró, otecnobrega surgiu no final dos anos 90 na periferia de Belém, quando produtores começaram a gravar faixas baseadas em ritmos populares, como a lambada, acompanhadas debatidas eletrônicas. O gênero musical já se encontrava na própria música-tema da novela(aquela que toca na abertura) com “Ex Mai Love” (ouça completa aqui), da paraense Gaby Amarantos, e foi uma das mais pedidas nas rádios na época de transmissão da novela.

– “Ex Mai Love” é um brega de raiz e, dentro da novela, toda a forma de divulgação e modelo de mercado fazem referência ao tecnobrega. É um pouco a minha trajetória. – contouGaby em uma entrevista.


Já em “Sangue Bom”, a dupla música + interatividade segue fazendo sucesso, apesar da trama não girar em torno de seus momentos musicais. O dono dos holofotes dessa vez é o funk, representado na figura da personagem Brunetty (Ellen Roche) – ou Mulher Mangaba, se você preferir -e de Filipinho (Josafá Filho) – ou Famosinho da Casa Verde. Uma homenagem às mulheres-fruta, a personagem de Ellen Roche fez a atriz frequentar aulas de canto e, assim como em “Cheias de Charme”, teve seu clipe divulgado no site fictício - mas que mais uma vez também pode ser acessado por nós – “O Mexirico”. “Solteirinha da Pompéia (Trela)” (assista abaixo) não teve a repercussão de “Vida de Empreguete”, mas foi recebida com humor pelo público, que elogiou bastante Ellen nas ruas e redes sociais.Filipinho foi pelo mesmo caminho, e com sua paródia da música da Mulher Mangaba, “Famosinho da Casa Verde (Tela)” (veja aqui), alcançou a fama através de suas visualizações do vídeo na internet.



Vale lembrar que o que é novidade não é a ficção se misturar com a realidade através da música. Outras novelas, como a mexicana “Rebelde” - entre muitas outras -, já haviam feito isso antes. O que há de novo é a interatividade entre tudo isso, via redes sociais, sites oficiais e o que mais puder surgir no mundo da internet. Não raro é ver autores e diretores comentando que acompanham e leem o que está se falando sobre a novela entre os internautas, ou mesmo ver o nome da novela entre os assuntos mais comentados do dia. Se antigamente apenas um televisor figurava a sala de uma casa, hoje se perde a conta de quantas telas (no total) existem dentro dela. É um novo modo de assistir TV e de compor trilhas sonoras. E a tendência disso é só crescer, melhorar, e alcançar perspectivas maiores, mas isso já é assunto pra outro post... ;)




Texto: Lucas Moura, Betânia Pontelo, Camila Christian e Laís Coletta

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