Se existisse um
catálogo, um livro ou um filme sobre as "grandes mudanças do século XXI", a forma com a qual assistimos
televisão certamente estaria entre uma dessas mudanças. Nos dias atuais, é
comum observarmos uma maior interação televisão
versus telespectador, seja pelo
controle remoto, seja por outra tela - a do computador, tablet, celular e por
aí vai. Redes sociais (Facebook e Twitter, em especial) explodem de comentários
sobre jogos, lutas, filmes e novelas, todos os dias.
Há ainda, dentre
vários, dois outros tipos de interatividade.
Um deles é a aparição,
na TV, dos comentários dos
telespectadores na internet. Em transmissões de jogos, por exemplo, é
recorrente vermos uma pergunta enviada para o narrador via internet.
Diariamente, também podemos ver diversos tweets
(as mensagens enviadas pelo Twitter) no canto inferior da tela de algum
programa, como o famoso Vídeo Show, da Rede Globo.
O outro tipo de
interação, peça-chave do post, mistura ainda mais o que está sendo transmitido
com quem está assistindo, o receptor acaba por mergulhar e participar de uma
forma muito ampla e direta na história do emissor. É o caso das recentes
novelas das 19h da também Rede Globo. Em um formato completamente diferente do
que estávamos acostumados a ver nas novelas do horário, “Cheias de Charme” e a
atual “Sangue Bom” misturam ficção,
realidade, interatividade e música. Se uma boa trilha sonora já garante
destaque em uma novela “comum”, aqui ela tem quase o papel principal,
principalmente em “Cheias de Charme”.
A novela contou a
história de como três empregadas domésticas alcançaram a fama da noite pro dia,
após um vídeo pessoal vazado na internet. No vídeo em questão, Maria do Rosário
(Leandra Leal), Maria da Penha (Taís Araújo) e Maria Aparecida (Isabelle
Drummond) aparecem cantando e fazendo caras e bocas em cada cômodo da casa da
hilária Chayene (Cláudia Abreu). “Vida de Empreguete” (assista abaixo) hoje
conta com mais de 3 milhões de
visualizações no Youtube e foi sucesso não só na teledramaturgia, como
também fora dela. No capítulo em que o vídeo caiu na internet, a própria novela
fez o convite para os telespectadores irem assistir o clipe no site oficial. E
assim se seguiu até o fim da história, como se nós, telespectadores,
estivéssemos sentindo um pouquinho do sucesso das três Marias mais amadas do
Brasil na vida real, ao vivo e a
cores.
Paródias foram criadas,
jingles para campanhas políticas e, ainda, a trama fez deslanchar o tecnobrega Brasil afora. Também
conhecido como eletroforró, otecnobrega surgiu no final dos anos 90 na
periferia de Belém, quando produtores começaram a gravar faixas baseadas em ritmos populares, como a lambada, acompanhadas
debatidas eletrônicas. O gênero
musical já se encontrava na própria música-tema da novela(aquela que toca na
abertura) com “Ex Mai Love” (ouça completa aqui),
da paraense Gaby Amarantos, e foi uma das mais
pedidas nas rádios na época de transmissão da novela.
– “Ex Mai Love” é um
brega de raiz e, dentro da novela, toda a forma de divulgação e modelo de
mercado fazem referência ao tecnobrega. É um pouco a minha trajetória. –
contouGaby em uma entrevista.
Já em “Sangue Bom”, a dupla música + interatividade segue fazendo
sucesso, apesar da trama não girar em torno de seus momentos musicais. O dono
dos holofotes dessa vez é o funk,
representado na figura da personagem Brunetty (Ellen Roche) – ou Mulher
Mangaba, se você preferir -e de Filipinho (Josafá Filho) – ou Famosinho da Casa
Verde. Uma homenagem às mulheres-fruta, a personagem de Ellen Roche fez a atriz
frequentar aulas de canto e, assim como em “Cheias de Charme”, teve seu clipe
divulgado no site fictício - mas que mais uma vez também pode ser acessado por nós – “O Mexirico”. “Solteirinha da
Pompéia (Trela)” (assista abaixo) não teve a repercussão de “Vida de
Empreguete”, mas foi recebida com humor pelo público, que elogiou bastante
Ellen nas ruas e redes sociais.Filipinho foi pelo mesmo caminho, e com sua
paródia da música da Mulher Mangaba, “Famosinho da Casa Verde (Tela)” (veja aqui),
alcançou a fama através de suas
visualizações do vídeo na internet.
Vale lembrar que o que
é novidade não é a ficção se misturar com a realidade através da música. Outras
novelas, como a mexicana “Rebelde” - entre muitas outras -, já haviam feito
isso antes. O que há de novo é a interatividade
entre tudo isso, via redes sociais, sites oficiais e o que mais puder surgir no
mundo da internet. Não raro é ver autores e diretores comentando que acompanham e leem o que está se falando
sobre a novela entre os internautas, ou mesmo ver o nome da novela entre os
assuntos mais comentados do dia. Se antigamente apenas um televisor figurava a
sala de uma casa, hoje se perde a conta de quantas telas (no total) existem
dentro dela. É um novo modo de assistir
TV e de compor trilhas sonoras. E a tendência disso é só crescer, melhorar,
e alcançar perspectivas maiores, mas isso já é assunto pra outro post... ;)
Texto: Lucas Moura,
Betânia Pontelo, Camila Christian e Laís Coletta
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