Sensibilidade para reconhecer no outro uma
verdadeira fonte de inspiração. É assim que o trabalho de Claudia Andujar pode ser definido. Sem se prender a
formalidades sociais e convenções pré-estabelecidas, Claudia buscou inspiração
em grupos marginalizados – especificamente em grupos indígenas. Nascida em
1931, na Suíça, Claudia viveu em Nova York, mas nos anos 1950 se transferiu
para o Brasil. A partir daí começou uma série de trabalhos fotográficos com
grupos isolados do interior do estado de São Paulo.
Índios Aharaibus, de 1971
Graças à proximidade que mantinha com Darcy Ribeiro,
a fotógrafa fez registros de moradores da região do Xingu, em 1958. Desde
então, não deixou de ver seu nome atrelado à luta pela causa indígena. À época
em que trabalhou na revista Realidade, teve contato com índios Yanomami e
passou a se dedicar á luta pela preservação deste povo e sua cultura.
Muitas das obras de Claudia são resultado de seu trabalho na revista Realidade
Através de bolsas recebidas de instituições de
fomento, Claudia pôde dedicar tempo e inspiração para retratar povos indígenas.
No livro "Marcados", Claudia relata as experiências vividas com os índios Yanomamis
É no engajamento com a causa indígena que se revela
a grandiosidade da obra de Claudia. Detalhar o estilo de vida dos índios, na
condição mais natural possível, destacar os rostos e a carga emocional que
cerca os personagens retratados – conferindo-lhes identidade, um lugar no
mundo, um estar presente, mesmo que existam grupos contrários e relutantes
contra a necessidade de preservação desta cultura.
O trabalho de Andujar transcende também a concepção
de fotografia pautada no engajamento social, visto que o caráter documental e o
posicionamento político são marcas notórias na obra da fotógrafa. Seus livros também vão discutir acerca da vivência
que teve enquanto fazia os registros de imagens.
Claudia utiliza em várias de suas fotografias o
contraste preto-e-branco, reforçando a noção das mazelas enfrentadas por tais
grupos, que se apagam aos poucos diante do medo e da falta de alternativas para
buscar a manutenção de seu estilo.
Sem fazer uso de reproduções chocantes, imagens
perturbadoras ou violência explícita, Claudia soube captar a dimensão
psicológica de cada um de seus retratados – levando esta dimensão a cada um que
observa suas fotografias e não deixando brechas para que o público, ao tirar os
olhos de cada imagem, saia da mesma forma que chegou. Ao depararmos com imagens
de mulheres, homens nas comunidades e principalmente crianças, a motivação que
nos vem é imediatamente aderir à causa, não permitir que cada um daqueles
rostos siga sem ter a certeza de preservação de sua identidade. Enquanto isso,
dentro de cada espectador brota uma sensação de força, de ser capaz, de vontade
de se aliar ao outro. Claudia não nos permite sairmos ilesos diante de suas
imagens. Mesmo que os sentimentos não transbordem para o nível da concretude,
não olharemos da mesma forma para culturas distintas sem nos lembrarmos da luta
da artista naturalizada brasileira.
Texto: Marcos Meigre
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