quinta-feira, 25 de julho de 2013

Claudia Andujar e o engajamento pela luta de preservação da cultura indígena


Sensibilidade para reconhecer no outro uma verdadeira fonte de inspiração. É assim que o trabalho de Claudia Andujar pode ser definido. Sem se prender a formalidades sociais e convenções pré-estabelecidas, Claudia buscou inspiração em grupos marginalizados – especificamente em grupos indígenas. Nascida em 1931, na Suíça, Claudia viveu em Nova York, mas nos anos 1950 se transferiu para o Brasil. A partir daí começou uma série de trabalhos fotográficos com grupos isolados do interior do estado de São Paulo.



Índios Aharaibus, de 1971


Graças à proximidade que mantinha com Darcy Ribeiro, a fotógrafa fez registros de moradores da região do Xingu, em 1958. Desde então, não deixou de ver seu nome atrelado à luta pela causa indígena. À época em que trabalhou na revista Realidade, teve contato com índios Yanomami e passou a se dedicar á luta pela preservação deste povo e sua cultura.

Muitas das obras de Claudia são resultado de seu trabalho na revista Realidade


Através de bolsas recebidas de instituições de fomento, Claudia pôde dedicar tempo e inspiração para retratar povos indígenas.

No livro "Marcados", Claudia relata as experiências vividas com os índios Yanomamis


É no engajamento com a causa indígena que se revela a grandiosidade da obra de Claudia. Detalhar o estilo de vida dos índios, na condição mais natural possível, destacar os rostos e a carga emocional que cerca os personagens retratados – conferindo-lhes identidade, um lugar no mundo, um estar presente, mesmo que existam grupos contrários e relutantes contra a necessidade de preservação desta cultura.
O trabalho de Andujar transcende também a concepção de fotografia pautada no engajamento social, visto que o caráter documental e o posicionamento político são marcas notórias na obra da fotógrafa. Seus livros também vão discutir acerca da vivência que teve enquanto fazia os registros de imagens

Claudia utiliza em várias de suas fotografias o contraste preto-e-branco, reforçando a noção das mazelas enfrentadas por tais grupos, que se apagam aos poucos diante do medo e da falta de alternativas para buscar a manutenção de seu estilo.

Sem fazer uso de reproduções chocantes, imagens perturbadoras ou violência explícita, Claudia soube captar a dimensão psicológica de cada um de seus retratados – levando esta dimensão a cada um que observa suas fotografias e não deixando brechas para que o público, ao tirar os olhos de cada imagem, saia da mesma forma que chegou. Ao depararmos com imagens de mulheres, homens nas comunidades e principalmente crianças, a motivação que nos vem é imediatamente aderir à causa, não permitir que cada um daqueles rostos siga sem ter a certeza de preservação de sua identidade. Enquanto isso, dentro de cada espectador brota uma sensação de força, de ser capaz, de vontade de se aliar ao outro. Claudia não nos permite sairmos ilesos diante de suas imagens. Mesmo que os sentimentos não transbordem para o nível da concretude, não olharemos da mesma forma para culturas distintas sem nos lembrarmos da luta da artista naturalizada brasileira. 





Texto: Marcos Meigre

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