quinta-feira, 2 de julho de 2015

A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica

Por Robson Filho, Mateus Dias e Guilherme Pimenta


Atget, quando fotografava as ruas de vazias de Paris no século XIX, iniciou o processo de valor de exposição sobrepondo ao valor do culto da fotografia
Como lidar com a reprodução das artes e o comportamento humano com relação à natureza de uma obra. Esse é o enfoque principal do autor quando ele fala sobre a reprodutibilidade técnica. Interessante notar que a iniciativa já toma suas diferenças quando são levantadas questões relativas à percepção. Um recorte sobre a aura da obra de arte, aspectos do momento em que ela foi produzida e a variabilidade de interpretações que modificam a forma como a qual podem e são repetidas.

O autor perpassa por uma linha do tempo, destacando a evolução das técnicas de reprodução e, paralelamente, avalia os princípios da arte no que se refere à sua autenticidade e originalidade, mas também traz à discussão os aspectos relativos à acessibilidade e à massificação dos trabalhos a partir da possibilidade de sua reprodução. Ele deixa claro que, apesar da facilidade de se repetir uma obra, questões como a tradição, o valor único, de culto e exposição, são fatores determinantes para que a reprodutibilidade desencadeie uma série de introspecções do indivíduo à obra original, perpassando pelo seu contexto histórico e social, aliado à sua cultura imediata (contemporânea).

As pinturas foram feitas para serem vistas por poucas pessoas. A contemplação simultânea por um público grande significou um sintoma da crise que viria sofrer a pintura, que não consegue oferecer um objeto próprio para a recepção coletiva. Quando esta situação mudou, veio junto o conflito da reprodutibilidade técnica da imagem. Benjamin ressalta que “por mais que se tenha tentado expor as pinturas às massas em galerias ou salões, não há um modo de as massas se organizarem ou se controlarem na recepção dessas obras” (p. 26), daí o público poder reagir de forma progressista ou retrógrada. Walter Benjamin apresenta ideias que demonstram que a fotografia teve o seu valor modificado no decorrer dos tempos. Até um momento do passado, as fotos possuíam um valor de culto que era alimentado pela sua utilidade na sociedade. As pessoas davam atenção às fotos porque este era um meio para lembrar o passado. Posteriormente, quando o ser humano sai da imagem, as fotografias passaram a ter um valor de exposição mais forte que o valor de culto.

Esta pontuação feita pelo autor também pode ser interpretada nos dias atuais a partir de certo grau de banalização da foto. A tecnologia e seu fácil acesso promoveram uma enorme quantidade de fotos que, muitas vezes, possuem um valor de exposição muito mais visível que o valor do culto da imagem, ainda que o ser humano esteja enquadrado na imagem.


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As fotografias passam a exigir um tipo de recepção e o espectador deve procurar caminhos para a interpretação delas. Assim, as legendas das revistas direcionam o entendimento dos leitores, processo que é desenvolvido no cinema, onde a sequência das imagens e a edição influenciam muito mais a percepção de quem recebe consome a produção. Benjamin critica a discussão criada para classificar a fotografia como uma arte ou não, sem levar em conta que a novidade poderia modificar a natureza da própria arte. A mesma analogia é apresentada em relação ao cinema. O cinema, que era considerado uma “cópia estéril” da sociedade é comparado ao teatro. O autor apresenta as diferenças estruturais de cada um, como o processo de produção e o papel de mediação feita pela máquina no cinema, e também a relação do autor com o público, prejudicada pela falta de contato interpessoal entre eles.   


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No cinema, os atores não podem adaptar seu desempenho de acordo com a reação do público. Sua interpretação é feita para a máquina (a câmera).
O trabalho do ator de cinema é diferente do teatro. Para as câmeras, seu trabalho fica limitado e ele se sente exilado, segundo Benjamin. A introdução da máquina para reproduzir a arte interrompe a aura que envolve o personagem e o intérprete. O “aqui-e-agora” que ocorre no teatro entre público e artista não se mostra presente no cinema. Este fato é mesclado, conforme a opinião do autor, com a criação da “personality” fora dos estúdios.

O cinema também é comparado ao esporte, uma vez que em ambos os casos os espectadores são semiespecialistas. Para o autor, esta relação coloca todas as pessoas à vontade para serem filmadas. Além deste fato, a indústria cinematográfica atrai a atenção das massas por meio de performances fantasiosas e especulações duvidosas, ajudando a entender o seu sucesso. Benjamin, ao falar sobre a realização de filmes – que, para ele, é um espetáculo inimaginável antigamente – compara o cinema ao teatro e à pintura.

Segundo o autor, o cinema trouxe vários elementos estranhos à representação, como máquinas de filmagem e aparelhos de iluminação, e mudou a ilusão da encenação com a mudança da localização/distância e com a penetração na realidade. Enquanto no teatro a localização do palco permitia o reconhecimento do caráter ilusionista da encenação, no cinema esta localização é inexistente, pois nos estúdios as máquinas penetram na realidade. Da mesma forma, compara-se o cinegrafista ao pintor: este último observa uma distância entre ele e a realidade dada, ao passo que o primeiro penetra nessa realidade, produzindo imagens completamente diferentes. O cinema possibilitou a ampliação da percepção por meio da análise de outros pontos de vista.

Por isso, Benjamin o coloca como superior à pintura, por fazer descrições mais precisas, e também ao teatro, por destacar os elementos. A câmera e seus elementos, com movimentos de subida, descida, cortes, closes, ampliações e reduções, promoveram a abertura do inconsciente óptico. Numa outra parte do texto, Benjamin fala sobre o efeito da arte no público. Cita aí o dadaísmo, que obteve os efeitos que atualmente o público busca no cinema. O movimento promoveu a destruição da aura das criações e, com a reprodução, provocou a indignação pública, que era, sobretudo, seu principal objetivo. Os dadaístas não queriam obras atraentes para os olhos do público, queriam, isso sim, atingi-los, chocá-los.

Assim, a obra ganhou uma qualidade tátil e fomentou a demanda pelo cinema, “cujo elemento de distração é, sobretudo, de natureza tátil, baseado fundamentalmente nas mudanças de locais e cenários, atingindo o espectador na forma de choques sucessivos” (p. 29). A partir daí, o autor fala sobre a relação do público com as obras e ingressa na discussão da qual fazem parte as críticas ao cinema, as mesmas feitas atualmente à televisão: de que promovem apenas a distração, não permite que se pense, que deixa burros os espectadores. Está aí a antiga acusação de que enquanto as massas estão a fim de distração, a arte exige recolhimento dos espectadores para a sua apreciação. Assim, quem se recolhe diante de uma obra, mergulha nela, ao passo que, no caso de quem quer diversão, a obra é que penetra nas massas. E isso nos faz pensar no cinema 3D de hoje, que permite que cada vez mais a obra penetre no seu público e promova a interação com ele, com ainda mais divertimento do que havia.

O texto de Walter Benjamin fala, então, sobre a arte na modernidade capitalista e nos faz refletir se a reprodutibilidade das obras artísticas é uma vantagem ou uma desvantagem. Quando tratada como difusão de informações, pode ser considerada bastante importante, pois, a partir dela, o que era apenas da elite passa a ser de acesso também das massas, que não entraria em contato com a arte de outra forma senão visitando museus com obras originais. Mas também pode ser pensada como um problema, uma vez que coloca a informação de forma rasteira, em um nível inferior, para marcar o conhecimento da população, fazendo a aura da obra sumir.

Nos exemplos a seguir, uma das inúmeras reproduções das famosas obras Monalisa e A Santa Ceia, de Leonardo da Vinci.





 



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Neste vídeo podemos ver como a ópera do Barbeiro de Sevilha foi reproduzida de outra forma completamente diferente no desenho animado de Tom e Jerry.

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