Por Janine Lopes, Laira Carnelós,
Mariana Balduci, Mariana Diniz e Taiane Souza
Mariana Balduci, Mariana Diniz e Taiane Souza
A autora Susan Buck-Morss em seu artigo “Estética e anestética: uma reconsideração de A Obra de Arte de Walter Benjamin”, publicado em 1992, aborda uma problemática sob a teoria de politização da arte. Para Benjamin, a politização da arte seria a incorporação da crítica e do raciocínio lógico nas reproduções das novas mídias. Para a autora, se é imprescindível a presença da crítica para tornar a cultura de massa produtiva, a arte pela arte é abandonada. Sob essa perspectiva, a estetização da política causa alienação, enquanto a radicalização da politização da arte gera anestesia. Sendo assim, a autora defende a coexistência dos dois extremos, pelo fato de que ambos não limitam a experiência artística.
O conceito de estética é discutido dentro de vários recortes temporais, entretanto a autora destaca que ele foi alterado na modernidade devido ao mito da autossuficiência. O homem moderno diante da realidade em que vivia – industrialização, grandes guerras - em busca de segurança da psique, anestesia seus sentidos. O esteticamente bonito torna-se aquele que não se esquiva para seus sentimentos. Nesse momento, a estética é considerada o seu oposto: a anestética, aquilo que está anestesiado.
Hoje percebemos que estamos anestesiados pelo caos de informação que vivenciamos. Somos bombardeados por tantas informações que passamos a ignorá-las. Tudo fica repetitivo e já não tem mais importância. É aí que ficamos anestesiados. Temos que mudar novamente a forma de perceber o mundo. Como Susan diz: “A questão já não é educar o ouvido rude para ouvir música, mas desenvolver a audição. Já não se trata de treinar o olho para ver a beleza, mas de reestabelecer a perceptibilidade”.
A real percepção da arte surge com a experiência. É impossível entendermos uma coisa quando não temos conhecimentos prévios como, por exemplo, quando somos crianças e acreditamos que a palavra oral tem ligação com o tempo. Um remédio com indicação oral seria, portanto, tomado de hora em hora. O mesmo com sexo oral.
Partindo dessas concepções é possível gerar outras, trazendo assim nova significância ao objeto. O estímulo humano pode ser dado em diversas formas. Muitas vezes é o estímulo que cria o ambiente necessário para que o artista desenvolva dentro de si o ápice de sua expressão. Colocamos aqui como artistas todos aqueles que se mostram para o mundo um reflexo de seus sentimentos, ou seja, o artista não é um estigma inalcançável e é intrínseco ao homem. É pensando nessa premissa que, de acordo com o texto estudado e apresentado, entendemos que o excesso de estímulo pode causar um efeito reverso, ambíguo ao que primeiro propõe. Quando somos bombardeados de informações e sensações há uma tendência à ficarmos inertes e anestesiados, pois a própria experiência com o mundo exterior anula os desejos internos. Músicas, esculturas, anúncios e diversas outras maneiras de atingir o ser humano, pode, em alguns casos, anular seu desejo pelo intenso, causando o conformismo de uma unidade pronta, programada. A ópera de Wagner foi criticada por ser vazia de significados, inerte ao sentimento que a música deveria causar, exatamente por exagerar nos valores sensoriais que ao invés de impactar, anestesia.
A autora cita o escritor alemão Ernst Jünger, que disserta em torno da ideia de que a tecnologia faz com que o trabalhador crie uma segunda consciência, mais fria, e aceite ele próprio como sendo um objeto. Como exemplo, ele cita a fotografia, a qual representa o “olho artificial”. Assim, os órgãos sensoriais da tecnologia passam a ser esse novo “eu” da sociedade transformada, e agem como escudo contra essa ordem mais fria. Nosso corpo, diante do “grande espelho” da tecnologia, comporta-se de forma calculada, procura seguir as normas e suportar, sem dor, os choques da modernidade. Na arte, a impressão material dessa fragmentação tecnológica passa a ser representada pelos retratos dos pintores expressionistas dos rostos: sem blindagem e expostos. Ao mesmo tempo, como forma de retratar esse novo corpo criado pela tecnologia, seguiu-se um padrão superficial, que ilustrasse de forma abstrata a razão, a ordem e a coerência.
Jacques Lacan explica essa forma de enxergar os corpos a partir da teoria do “estádio do espelho”, em que uma criança, ao olhar-se pela primeira vez no espelho, reconheça-se como forma física, e a partir do “eu narcisístico” refletido, ela passa a se [des]reconhecer, ou seja, há um processo de fragmentação na formação do ser. Tal visão aparecia também no surrealismo, movimento em que as imagens eram fragmentadas. A teoria de Lacan, para Foster, poderia ser uma teoria do fascismo, o qual “exibia o corpo físico como uma espécie de blindagem contra a fragmentação e a dor” [como nos Jogos Olímpicos de Berlim].
O texto, por fim, é concluído a partir de duas ideias: primeira, de que a estética aparece como a anestesia da recepção, ou seja, uma preparação de toda a sociedade, por meio de um ritual, para o sacrifício e a destruição sem questionamento. A segunda, de que Hitler representa, no fascismo, uma figura para a nação Alemã do eu intacto [em oposição ao medo e ao eu despedaçado dessa sociedade]. Não só no fascismo, mas até hoje, passamos por esse processo de fragmentação do ser na infância, o qual nós tentamos anestesiar constantemente com o narcisismo desenvolvido quando adultos, a fim de rebater o choque da experiência pós-moderna, e a estética tem um importante papel neste processo.
Ei, muito boa a postagem. Parabéns! :-)
ResponderExcluirTalvez tenha interesse em ver nossos posts sobre lipo de papada e vasos decorativos. Obrigado! ;-)