segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tempo e memória

Por Caroline Bacelar, Isadora Canela, Mariana Elian e Mayara Wermelinger



      A pós-modernidade, a partir de suas novidades e inovações tecnológicas, alterou a sociedade em diversos aspectos. Uma das principais modificações foi em relação à alteração das noções de tempo e espaço. Segundo o teórico cultural Stuart Hall, as novas combinações de espaço-tempo são as principais características da globalização.


      Evidentemente tais alterações não são exclusivas do mundo contemporâneo, ao longo da história estas relações foram reinventadas em cada período e cultura. Porém, a esse respeito, Katia Canton sugere que: “é na experiência contemporânea dos deslocamentos e das tecnologias de massa que esse desregramento toma corpo com mais intensidade, provocando uma sensação de eterno presente” (Tempo e Memória, 2009, p. 16)

     Os avanços tecnológicos e a intensa globalização proporcionaram uma grande mudança no entendimento de distâncias físicas e temporais. As comunicações via satélite, por exemplo, comprimem a uma mesma distância temporal, quase instantânea, uma distância física de dez ou de dez mil quilômetros. O advento e a popularização da televisão em meados do séc. XX, por exemplo, possibilitou a visualização de imagens de qualquer lugar do mundo, quase instantaneamente, o que altera drasticamente a percepção de tempo e distância de uma sociedade, antes bem mais restrita aos acontecimentos e experiências locais.

      As novas tecnologias de rede ampliam ainda mais esse achatamento do mundo e a dissolução do tempo. Como as redes sociais, por exemplo, que permitem que qualquer pessoa conectada possa se comunicar e até ver outra, independente da distância física entre elas e em tempo real. Além disso, temos acesso a uma infinidade de informações e conteúdos instantâneos e efêmeros. Estas alterações geram reflexos em todos os âmbitos sociais e individuais. Paul Virilio, pensador francês questiona: “Como viver verdadeiramente se o aqui não o é mais e se tudo é agora? Como sobreviver amanhã à fusão/confusão instantânea de uma realidade que se tornou ubiquitária se decompondo em dois tempos igualmente reais: o tempo da presença aqui e agora e aquele de uma telepresença à distância, para além do horizonte das aparências sensíveis?” (O espaço crítico, 1999, p. 103).
 
     Como ficam, então, as relações sociais em uma época em que se pode interagir com qualquer indivíduo ou cultura a qualquer momento, independente de sua localização através de uma tela e não da presença física? Não estamos aqui, falando de teorias ou previsões, estas mudanças são perceptíveis na experiência do cotidiano social do Homem contemporâneo.

    Por outro lado, a contemporaneidade e as novas tecnologias revolucionam a própria localização no tempo. A instantaneidade e o constante movimento de novidades, tanto das informações, dos produtos, quanto dos discursos e questionamentos, torna tudo rapidamente ultrapassado. Da mesma forma que o que é importante agora rapidamente se esvai e se torna passado, a distância entre o agora e o momento próximo são, também, tão ligadas e instantâneas quanto. Logo, o passado e o futuro se fundem em um presente caótico e desordenado. Tamanha efemeridade das experiências altera drasticamente pilares básicos da construção da identidade no imaginário coletivo e individual. Katia Canton alerta: “Turbulento, esse tempo parece fugaz e raso. Retira as espessuras das experiências que vivemos no mundo, afetando inexoravelmente nossas noções de história, de memória e pertencimento” (Tempo e Memória, 2009, p. 20).

   Diante de tamanha alteração nos pilares de localização cronológicos de presente, passado e futuro, a memória passa a ter, mais do que nunca, uma importância simbólica de resistência. A preocupação e valorização do antigo, emerge como forma de reafirmar e nortear as histórias e tradições, ameaçadas por este “tempo raso”. Segundo o pesquisador Mauricio de Almeida Abreu, “depois de um longo período em que só se cultuava o que era novo, um período que resultou num ataque constante e sistemático às heranças vindas de tempos antigos, eis que atualmente o cotidiano urbano brasileiro vê-se invadido por discursos e projetos que pregam a restauração, a preservação ou a revalorização dos mais diversos vestígios do passado”.


 

      Dessa forma percebe-se em alguma escala a nostalgia atuando como preservação. O próprio desejo de se materializar e eternizar as recordações de tempos passados é em si mesmo a própria valorização e reafirmação da identidade histórica e cultural. É válido ressaltar que a importância da memória como resgate não pode ser confundida com desejo de regressão, é, pelo contrário, a exaltação à memória sem a qual não e possível haver qualquer tipo de humanidade, como afirma Canton.

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