quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Das políticas às micropolíticas - Kátia Canton

Por Gabriel Novais
 
Discutimos diversos temas ao longo da disciplina de Temas de Arte Contemporânea. Durante o semestre nos perdemos e nos encontramos seguindo bem o poeta Manuel de Barros.

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“Desaprender oito horas por dia ensina os princípios. 
As coisas não querem ser vistas por pessoas razóaveis.
Elas desejam ser olhadas de azul - que nem uma criança que olha a ave”
Uma Didática do Inventar
          
Qual o papel da arte? Perguntamo-nos em silêncio. Ela é pessoal? Ela é coletiva? Política? Ela simplesmente é. Kátia Canton, em sua coleção de livros à respeito da arte contemporânea, sugere que “ela provoca, instiga e estimula nossos sentidos, descondicionando-os, isto é, retirando-os de uma ordem preestabelecida e sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no mundo”

Das Políticas às micropolíticas, um dos volumes desta coleção, trás exatamente esta infinidade de formas de “se organizar no mundo”. Canton em uma entrevista com o jornalista político  James Spitzcoviszky expõe o cenário globalizado em que vivemos - pós-guerra fria. “Fazer política hoje já não é mais fazer política como nos anos que marcaram o século XX. As ideologias entraram em crise, os partidos entraram em crise, então agora as pessoas procuram formas alternativas de fazer política e expressar seus pontos de vista”, ressalta Spitzcoviszky. A arte é uma delas.

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Rosana Paulino, artista plástica paulistana, é uma das personalidades que Canton compila neste volume. Focada no papel da mulher negra, seu desafio tem sido “pensar em minha condição no mundo por intermédio de meu trabalho. Pensar sobre as questões de ser mulher, sobre as questões da minha origem, gravadas na cor da minha pele, na forma dos meus cabelos. Gritar, mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou outros nomes na parede”. Para ela “a questão da individualidade é muito importante em meu trabalho, por que a política é pessoal, a arte é pessoal”.

 Eduardo Srur é quinto artista apresentado por Canton. Suas intervenções são conhecidas por aproximar a arte contemporânea do cotidiano das pessoas. A utilização de locais públicos como objeto lhe trás questões de direito. “O trabalho exige do artista velocidade mas às vezes é necessário pedir autorizações. Nesse caso atuei sem autorização, por que eu modifiquei o conteúdo dos outdoors. Eu ataquei a imagem deles, afinal, ninguém pergunta se pode pôr propaganda da sua rua, então eu da mesma forma os ataquei”, conta ele em entrevista.

O volume se encerra com o filósofo, professor e coordenador do grupo de teatro Ueinzz.Em sua fala retornamos ao inicio de nossas discussões. “Creio que poderíamos considerar a arte como ferramenta importante na fabricacao de uma multiplicidade de subjetividades, contanto que ela mantenha viva sua capacidade de afetar, que ela articule nossos pensamentos e expanda nossa potencia de criar sentidos para o mundo”, conclui ele.

A arte contempla a tudo que sente, que vibra. Desaprender, como diz Manuel de Barros, é o que ela nos propõe.


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