quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A utilização da arte para tratamentos psiquiátricos


Betânia Pontelo


O texto Manifestações artísticas: práticas e representações sobre a saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica, de Patricia Reinheimer, trata de um assunto particularmente conhecido para mim. Sou de Barbacena-MG, a famosa “cidade dos loucos” e recebeu esse nome devido ao número de hospícios instalados na cidade e a fama que ganharam.
Sempre que me perguntam se lá é mesmo a cidade dos loucos, eu respondo que não, lá é a cidade onde cuidamos dos loucos que vem de outros lugares. O tom é de brincadeira, mas o assunto é sério, e uma das coisas que ajudou a acabar com os hospícios transformando-os em clínicas psiquiátricas, foi justamente a arte, como a autora cita no texto “o debate muda de foco e deixa de ser sobre a defesa dos mecanismos de proteção jurídica à pessoas com déficit ou perturbação, e passa a se constituir uma discussão sobre os mecanismos jurídicos que possibilitem a inclusão civil e social de pessoas com características especiais”.
Durante toda minha infância acompanhei desfiles de carnaval promovidos pelas clínicas psiquiátricas e fui percebendo a importância daquela manifestação cultural na saúde dos doentes. Como a inteiração com o ambiente externo fazia bem e, de fato, contribuía para uma melhora de comportamento e reação aos tratamentos.
Alguns anos depois, tive a oportunidade de acompanhar exposições de trabalhos manuais, artesanais e pinturas realizadas por pacientes da penitenciária psiquiátrica localizadas na cidade, e pude ver a sensibilidade e clareza com que aquelas pessoas que, muitas vezes são excluídas da sociedade, viam o mundo e a realidade ao seu redor.
A autora do artigo ainda ressalta a facilidade com que classificamos certos grupos e que muitas vezes não conseguimos retirar as opiniões preconceituosas para fazer um julgamento leal, como bem ressalta “é ‘fácil’ ser qualquer coisa, difícil é não ser enquadrado somente nas classificações genéricas, estatísticas que homogeneízam diferenças individuais”.
Além da importância social da arte nesses casos, tem também a importância pessoal, orgânica onde muita vezes aquelas pessoas que passavam o dia esperando a próxima dose do remédio se veem estimuladas e incentivadas a praticar outras atividades, a ativarem outras partes do cérebro, como a criatividade por exemplo, que há muito estava esquecida.

"Pode ser que você ainda não tenha se dado conta disso, mas o fato é que todas as coisas belas do mundo são filhas da doença. O homem cria a beleza como remédio para o seu medo de morrer. Pessoas que gozam de saúde perfeita não criam nada. Se dependesse delas, o mundo seria uma mesmice chata. Por que haveriam de criar? A criação é o fruto do sofrimento" - Rubem Alves


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