segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Galeria Adriana Varejão em Inhotim

Isadora Canela

Na entrada, um convite: permita-se ir além da sanidade. Nada de assustador ou distante como dizem os jornais e conservadores puritanos, apenas a natureza, farta, bela e simples retratada em um singelo banco, branco, com traços leves. Envolto do azul turquesa da água e em contraste com o brilho dourado da vida, o convite, tão charmoso e instigante, torna-se, então, irrecusável. Adentro aos caminhos propostos a espera de delicadeza, encontro realidade. Nossos corpos, nossos órgãos e nossos sonhos, limitados e sufocados dentro do concreto, cinza, cruel e feio, construído pelo homem que estupidamente aprisiona a si próprio. O contraste é, no mínimo, interessante. A natureza alucinante, leve, singela, para a qual os homens levantam tantas armas, enquanto o concreto, tão aceito, tão comum, prende friamente nossos tripas, sangue e coração.
            Os caminhos se seguem, agora, sem delicadeza, busco questionamentos. No topo da escada pequeno caos, aos poucos os olhos se acostumam e entendem. Na sala o que se fala é tradição. Obra consagrada, é movida, como um quebra-cabeça desordenado. Afinal, que ordem é essa? Se o concreto prende, a tradição, quando inflexível, acomoda. Mas se tudo é mutável, liberdade!
            Os olhos e o coração se perdem na paisagem. O fim do caminho é aberto, incrivelmente belo. Uma temperatura da cor de primavera, com frágeis nuances entre azul e amarelo e pássaros. Pássaros de todas as cores, tantos amores, distâncias e tamanhos, pintados em bancos que pedem um segundo de paz. 
Em minha subjetividade encontro a arte que abre os olhos e encanta e liberta e ama.

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