Isadora Canela
Na entrada, um convite:
permita-se ir além da sanidade. Nada de assustador ou distante como dizem os
jornais e conservadores puritanos, apenas a natureza, farta, bela e simples retratada
em um singelo banco, branco, com traços leves. Envolto do azul turquesa da água
e em contraste com o brilho dourado da vida, o convite, tão charmoso e
instigante, torna-se, então, irrecusável. Adentro aos caminhos propostos a
espera de delicadeza, encontro realidade. Nossos corpos, nossos órgãos e nossos
sonhos, limitados e sufocados dentro do concreto, cinza, cruel e feio,
construído pelo homem que estupidamente aprisiona a si próprio. O contraste é,
no mínimo, interessante. A natureza alucinante, leve, singela, para a qual os
homens levantam tantas armas, enquanto o concreto, tão aceito, tão comum,
prende friamente nossos tripas, sangue e coração.
Os caminhos
se seguem, agora, sem delicadeza, busco questionamentos. No topo da escada
pequeno caos, aos poucos os olhos se acostumam e entendem. Na sala o que se
fala é tradição. Obra consagrada, é movida, como um quebra-cabeça desordenado.
Afinal, que ordem é essa? Se o concreto prende, a tradição, quando inflexível,
acomoda. Mas se tudo é mutável, liberdade!
Os olhos e
o coração se perdem na paisagem. O fim do caminho é aberto, incrivelmente belo.
Uma temperatura da cor de primavera, com frágeis nuances entre azul e amarelo e
pássaros. Pássaros de todas as cores, tantos amores, distâncias e tamanhos,
pintados em bancos que pedem um segundo de paz.
Em minha subjetividade encontro a
arte que abre os olhos e encanta e liberta e ama.
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