Bruno Monteiro
Nascido no Rio
de Janeiro em 1898, apenas uma década depois do fim da escravatura, Heitor dos
Prazeres viria a se tornar grande pintor e sambista, retratando com maestria a
alegria e o sofrimento do povo brasileiro.
Sua vida seguiu
como a de qualquer menino do morro, ora trabalhava com o pai, aprendendo o
ofício de marceneiro, ora estava vadiando nas regiões de malandragem do Rio.
Seu primeiro contato com a arte foi através da música, aprendendo desde cedo a
tocar cavaquinho e clarinete, entre sambas e marchinhas, que foram surgindo à
medida que frequentava as rodas de samba, e o ambiente de boemia da cidade
carioca.
Nos anos 20,
consolidado o seu envolvimento com o samba, tornou-se um dos fundadores da
escola de samba ‘Estação Primeira de Mangueira’, e também da ‘Portela’, tendo
inclusive composto músicas com grandes nomes, como Noel Rosa e Sinhô.
Após a morte de
sua esposa, com 39 anos de idade, Dos Prazeres passou a preencher o vazio
através da pintura. Autodidata, começou pintando aquarelas sem técnicas
especiais; depois passou para a pintura a óleo, aperfeiçoando seu próprio
estilo até chegar às telas brilhantes e cheias de vida que se tornaram ícone da
cultura popular carioca.
Heitor dos
Prazeres era homem do povo e sua obra retrata o diversificado contingente
humano que habitava o Rio de Janeiro do início do século XX. Referenciava o
homem como inspiração máxima de sua criação, como ele próprio afirma: “Meu nome
é Heitor dos Prazeres, esse prazer que eu tenho no nome é o prazer que eu
divido com o povo, com este povo eu reparto este prazer, este povo que sofre,
que trabalha, este povo alegre é o que me obriga a trabalhar, a transportar
para a tela a alegria e sofrimento deste povo”.
Em suas telas aparecem
cenas do cotidiano carioca: favela, as brigas de malandros, rodas de samba,
mulatas e outras trivialidades que, juntas, dão autenticidade e expressão à
cidade do Rio.
Dos Prazeres se
consagrou em vida, realizou exposições individuais e coletivas em diversas
partes do Brasil, e participou das bienais de São Paulo de 1951, 1953 e 1963.
Seus quadros estiveram também em exposições no exterior, onde chamaram a
atenção devido à simplicidade e ingenuidade com que tratava os temas urbanos.
Registrava com
cores fortes e cheias de brilho a alegria e o lazer coletivos, o prazer da vida
e o aproveitamento total de cada segundo como se fosse único. Sua pintura tem
algo de peculiar, pois todos os elementos ali contidos são tratados
detalhadamente e com igual importância, sendo possível notar uma imagem distante
da realidade. Pessoas de todos os níveis sociais são desenhadas de perfil,
tratadas como iguais, e sempre dando uma sensação de movimento, parecendo
saltar da tela.
Tanto a música
quanto a pintura de Heitor dos Prazeres irradiam o calor humano e o apego à
vida, constituindo uma visão idealizada da vida coletiva, e oferecendo um
panorama cultural do modo de vida e das paisagens que se tornariam signos
irrefutáveis da cultura popular carioca.
Heitor dos Prazeres. Lapa, boemia.
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