quinta-feira, 27 de junho de 2013

#Vemprarua, torcer ou protestar?

Dizem por aí que propaganda boa é aquela que se infiltra na cabeça do consumidor e o conduz a comprar o produto que se quer vender. A pesquisadora Nelly Carvalho afirma que a propaganda substitui uma linguagem de poder por uma linguagem de sedução: a ideia é conquistar o público e o reconhecimento do que “se vende” por meio da publicidade. E por essa a Fiat não esperava! Seu jingle grudou e os brasileiros foram às ruas.




O comercial é um convite aos brasileiros para ir às ruas torcer pelo país durante as Copas. Segundo o slogan da propaganda, as ruas são especialidade da marca: “vem com quem mais entende de rua, vem com Fiat”. O que se pode observar é que, com o um carro Fiat, o consumidor estará presente nas ruas durante a Copa, comemorando, torcendo e vibrando.

Alguns elementos identificados no comercial são: dois pássaros voando, avenidas largas e limpas, carros coloridos da Fiat, outdoor com foto de Ronaldo e escrito “vem torcer Brasil” com a logo da Fiat, casa simples, televisão antiga, campo com animais e trailler rodeados de carros da Fiat, praia, degraus parecendo de um morro/favela com crianças correndo, torcedor com bandeira do Brasil na estrada, pedindo carona pra quem passa num fiat doblô,  prédios com bandeiras do Brasil afixadas, escada circular dando ideia de profundidade e que tem muita gente correndo, idosos, negros, mulatos, brancos, crianças, adultos, instrumento musical, fogos, fiat Strada.

A partir desses elementos, é possível ter algumas sensações como: torcida, ansiedade, aflição, alegria, comemoração, união, ufanismo, sincronia, comemoração, sensualidade, democracia. A ideia de democracia é passada, pois nota-se a presença de pessoas de todas as faixas etárias, estilos, classe social e cor. Como se esse evento unisse todo o Brasil na rua para torcer. A todo tempo é passado o sentimento de amor à pátria.
A música de O Rappa diz “se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar de verde e amarelo só pra ver o Brasil inteiro passar” e “vem vamos pra rua, que a rua é a maior arquibancada do Brasil”. Fica claro que se trata do convite para a Copa. Porém, as manifestações, que começaram em São Paulo, usaram da canção para convidar os brasileiros para protestar e reivindicar seus direitos básicos. 



Foram inúmeros cartazes pelos 4 cantos do Brasil escrito “#vemprarua” (como mostra a foto abaixo). Convocando todos para uma mudança.



O impacto que a música do comercial causou nas manifestações foi tal que veicularam notícias sobre a retirada da campanha do ar.
Manifestações como essa não ocorrem no Brasil há 20 anos. As últimas ocorreram em 1992 com o impeachment do ex-presidente Collor e em 1984 com as Diretas Já. O que caracteriza esses movimentos é a participação da juventude, que se reúne para lutar por melhorias. Essa juventude também está antenada aos produtos midiáticos e curtem “O Rappa”, contribuindo para assimilação da música.
Ao produzir a propaganda, a Fiat não sabia as proporções que o vídeo iria tomar. Porém, a música e as imagens podiam ser interpretadas como um convite a participar das manifestações: diversas pessoas se reunindo, frases como “o Brasil vai estar gigante, grande como nunca se viu” despertavam o sentimento de nacionalidade, que ultrapassou o motivo inicial da música: a paixão pelo futebol. A ideia era que a união poderia vencer a corrupção e tantos outros problemas.
É importante destacar a composição estética da propaganda, que traz lugares com aspectos limpos como avenidas, praias, campo, passando a sensação de harmonia e que todos que ali estavam, vivenciavam um momento de felicidade. Em contrapartida, na realidade o que se viu com os “brasileiros indo às ruas”, foi um estado de caos e indignação. O que se pode pensar a partir desta propaganda assim como a do Johnnie Walkerque também foi inspiração para o protesto “o gigante acordou” -, que frases, bordões e músicas usadas por elas podem influenciar os costumes da sociedade, não só de consumo mas também políticos.


Produção: Ana Paula Lopes, Andrezza Vieira, Caique Verli, Jéssica Santana e Thaiss Moreira

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