Por Ana Luisa Costa
Adriana Varejão é
um dos maiores nomes da arte plástica brasileira contemporânea.
Para os trabalhos
tridimensionais, que são fragmentos de arquiteturas, ela partia muitas vezes de
fotografias que tirava em canteiros de demolições onde encontrava destroços de
paredes ainda cobertas de azulejos.
Em 2002, enquanto preparava uma de suas
exposições, ela soube pelos jornais que um prédio desabara no centro do Rio.
Era um hotel de encontros chamado Linda do Rosário.
Sob os escombros,
encontraram 2 dias depois um casal de amantes. De suas ruínas, Adriana tirou o
modelo para as obras Linda do Rosário e Linda da Lapa.
O incidente no
Hotel Linda do Rosário
“Linda do Rosário” era um prédio de cinco andares, localizado na Rua do Rosário, que caiu na tarde do dia 25 de setembro de 2002. Nesse caso, a tragédia só não foi maior porque foram ouvidos estalos na estrutura cerca de 20 minutos antes do desabamento, possibilitando que os hóspedes e empregados do hotel Linda do Rosário, que funcionava no local, fugissem a tempo. Tudo isso aconteceu devido a uma reforma mal executada em um restaurante no térreo, que abalou a estrutura do prédio, construído há quatro décadas.
No entanto, nem todos escaparam a tempo.
O porteiro do Linda Rosário estava com a mulher na recepção do hotel e, ao som do primeiro estampido, avisou aos demais funcionários que saíssem do prédio imediatamente. No momento em que descia a escada, lembrou das duas pessoas que ocupavam um quarto. ‘Interfonei e cheguei a bater na porta, mas não responderam’, contou.
Dois dias depois, os bombeiros encontraram dois corpos em meio aos escombros. Ele, professor, tinha 71 anos. Ela, bancária, tinha 47. Seus corpos foram reconhecidos por suas respectivas famílias no dia seguinte.
O filho do professor não quis que o nome do seu pai fosse divulgado, segundo matéria do Terra, “em virtude das circunstâncias que envolveram sua morte, que poderiam denegrir sua imagem”. Uma reportagem publicada no jornal O Dia revelou o motivo desse pedido: a bancária e o professor estariam vivendo um romance secreto, de anos, que acabou sendo revelado por causa do desabamento do hotel Linda do Rosário. Seus corpos foram encontrados nus e abraçados sobre os restos de uma cama. Há quem diga que eles dormiam, ou que talvez decidiram permanecer unidos, sem fugir, cansados de se esconderem.
Características das obras de Adriana Varejão
Adriana utiliza a pintura como suporte para a ficção histórica e a exploração de temas como a teatralidade, o desejo e os artifícios presentes no barroco. Em suas obras tridimensionais, rupturas na tela apresentam um interior visceral sangrento, formado de elementos escultóricos ou arquitetônicos. Nos trabalhos recentes, a artista desenvolve ambientes virtuais geometrizados que remetem a açougues, botequins, saunas, piscinas e banheiros, em que retoma questões intrínsecas à pintura como profundidade, espaço e cor. Através da releitura de elementos visuais incorporados à cultura brasileira pela colonização, como a pintura de azulejos portugueses, ou a referência à crueza e agressividade da matéria nos trabalhos com “carne”, a artista discute relações paradoxais entre sensualidade e dor, violência e exuberância.
No seu trabalho, difícil de classificar disciplinarmente, a carne, o sangue e, sobretudo a pele enquanto lugar que une ou divide interior e exterior, revelado e oculto, ganham com freqüência uma condição metafórica ou transformam-se em imagem forte de uma cultura que traz a violência e o sacrifício inscritos na matriz.
Talvez por isso, o seu horizonte estético seja o de uma beleza sanguínea, capaz de sobrepor erotismo, sublime e morte que, em vez de se apresentarem como elementos contraditórios, se tornam interdependentes.
“Visceral” é um adjetivo que costuma ser empregado para se falar de obras de arte que afetam a nossa sensibilidade de forma vigorosa e impactante. No caso de Adriana Varejão, a palavra ganha também um sentido literal: carne, vísceras e sangue são elementos recorrentes em sua produção, atravessada por questões sobre o corpo, a representação e a História.
Segundo Adriana, a idéia de carne, vísceras e sangue, que se tornaram vocábulos recorrentes em sua obra, surgiram a partir do uso de grande quantidade de tinta sobre a tela que foi naturalmente se tornando um corpo denso e espesso. A partir daí, Adriana passou a explicitar o sentido de corpo, fazendo incisuras e expondo interioridades, tratando a camada externa como pele. Ela pensa sempre em uma historia inscrita sobre um corpo, com diversas camadas dobradas, comprimidas, e muito acúmulo. “Quando vejo uma tela vazia imagino-a tão cheia a ponto de transbordar”.
Exposição Azulejão e Charques
Realizada no Banco do Brasil de Brasília
Nessa exposição vemos os principais traços das obras de Adriana: Azulejaria mesclada a pedaços de carne e corpos.
"Varal"
“Pele tatuada à moda de azulejaria”
“Heróis”
“Azulejaria em Carne Viva”
“América”