Caroline Bacelar, Isadora Canela e Mariana Elian
Escrito
há quase 80 anos, o texto “A obra de
arte na era da sua reprodutibilidade técnica”
de Walter Benjamin continua atual. Em sua obra, o autor, diferente dos
outros membros da escola de Frankfurt, acreditava que as novas tecnologias de reprodução artística e cultural – como, na época, a
foto e o cinema – poderiam ser
utilizadas em prol do sistema cognitivos, social, político e artístico.
Em
sequencia, Benjamin estabeleceu dois contextos distintos para o uso da cultura
de massa: a estetização da política e a politização da arte. O primeiro
conceito refere-se à utilização das novas tecnologias para maquiar a realidade
da política vigente. Em exemplo, o autor cita o fascismo, sendo ele “uma violação do aparato técnico, paralela a
sua violenta tentativa de organizar as massas recém proletarizadas”. Em outras palavras, os novos meios de
comunicação eram utilizados para estetizar a política, o que gera a alienação
da população. Atualmente, ainda pode-se perceber exemplos de estetização da
política através dos meios de comunicação, como a música.
Ano
passado, a população brasileira, indignada com a realidade do país, vivenciou
diversas manifestações em grande parte do território. A indignação se estendeu
aos dias atuais: parte da população se mostra contrária à realização da Copa do
Mundo de Futebol em terras tupiniquins. Trechos como “Juntos vamos fazer/ o
sonho acontecer./ Seja em qualquer lugar/ a galera vai cantar/ Eu quero gol!”,
extraído da música “Todo Mundo” de Gaby Amarantos e Monobloco podem maquiar a realidade
que está sendo vivida. Um exemplo de estetização da política.
Já
a politização da arte, segunda Benjamin, seria a incorporação da crítica e do
raciocínio lógico nas reproduções das novas mídias. Essa foi a solução do autor
para afirmar a cultura de massa entre os membros da escola de Frankfurt. Para
contrapor, a música “Copa-cola” da banda independente Dom Pepo, critica a
realização da Copa no Brasil. Essa crítica pode ser percebida em: “Pague pra
ver/ o Brasil inteiro/ Abrindo as pernas pra Europa/ Qualquer negócio a gente
topa/ só pra sediar a copa”. Este é um exemplo da politização da arte na
música, como forma de construção do pensamento crítico.
Entretanto,
a autora Susan Buck-Morss em seu artigo “Estética e anestética: uma
reconsideração de A Obra de Arte de
Walter Benjamin” publicado em 1992 encontra um problema na teoria da
politização da arte. Segundo ela, se é necessária a presença da crítica para
tornar a cultura de massa produtiva, a arte pela arte é abandonada. Em outras
palavras, a sensibilidade – o ato de sentir a arte – é esquecido. Por exemplo,
uma música instrumental, um jazz ou qualquer outra cadência harmônica que o
objetivo não seja a lógica não fariam sentido.
Dessa
forma, enquanto a estetização da política causa alienação, a radicalização da
politização da arte gera anestesia. Portanto, a autora defende que os dois
extremos não limitam a experiência artística, porque eles coexistem.
O conceito original de estética remete à
experiência sensorial, o que precede a lógica, o sentir de fato antes da
própria significação de qualquer cunho seja ele político, social ou econômico.
Como na semiótica, a estética é o primeiro signo, antes de sua interpretação e
significação.
Entretanto,
Susan afirma que o conceito de estética foi alterado na modernidade devido ao
mito da autossuficiência. Diante da industrialização e das grandes guerras, o
homem passa a se comportar com uma estratégia de defesa ilusória do não sentir.
Dessa forma, há a criação do mito narcisista em que, diante de determinada
situação em busca de segurança da psique o
homem passa a exaltar o afastamento dos sentidos. O esteticamente bonito passa
a ser aquele que não se esquiva para seus sentimentos. Nesse momento, a
estética é considerada o seu oposto: a anestética, aquilo que está anestesiado.
Atualmente,
também nos encontramos anestesiados. Uma das razões pode ser o caos de
informação que vivenciamos. Em meio a tanta informação, o homem passa a
ignorá-las, tornando-se um ser anestésico. Reproduzindo as palavras de Susan:
“A
questão já não é educar o ouvido rude para ouvir música, mas desenvolver a
audição. Já não se trata de treinar o
olho para ver a beleza, mas de reestabelecer a perceptibilidade”.
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