Anna Karolina, Vilela Siqueira, Bruno Cézar Gordiano, Fernando Altoé e Nathan Fioresi.
Walter Benjamim (1892-1940) foi
ensaísta, crítico literário, filósofo e sociólogo judeu alemão. Como legado o
autor deixou, dentre outras contribuições, trabalhos sobre a influência
exercida pelos meios técnicos no âmbito da percepção, da arte e da cultura. Uma
obra de grande representatividade escrita pelo autor foi A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, ensaio de
1936.
O comentador Detlev Schottker
ajuda-nos a compreender mais a fundo o ensaio citado acima e aponta para duas
questões centrais suscitadas pelas reflexões de Benjamim desde meados da década
de 1920. Primeiro, há que se considerar a difusão do processo da escrita e o
impacto público dos textos. O jornal e a revista, por exemplo, sofreram
mudanças na virada do século XIX para o XX, com o desenvolvimento das grandes
empresas de imprensa. Com isso, essas empresas passaram a orientar-se pelo
lucro e sofreram com o processo de massificação das informações veiculadas. A
segunda questão incide sobre as mídias visuais de massas e sua influência nas
formas de arte e de experiência. Aqui, entra o debate sobre a fotografia e o
cinema, que desde a década de 1920 haviam se tornado mídias influentes e meios
bem-sucedidos economicamente.
Sessão de Cinema na década de 1930.
Cine Brasil.
Benjamim, inserido nesse cenário
de intensas modificações, propõe em seu ensaio uma reflexão sobre as novas
experiências vividas pela modernidade. O cinema falado, por exemplo, quando
começa a ser disseminado na década de 1930, alcança um status econômico de grandes proporções. Contudo, a Benjamim
interessava não o caráter artístico do cinema, mas as novas formas de
experiência da modernidade que nele eram perceptíveis, como a aceleração da
sequência de imagens, através de montagens, e suas formas de apresentação. No
caso da fotografia, seu interesse residia no aspecto da reprodução de obras
existentes através de imagens de uma realidade que não podia ser captada a olho
nu.
O título do seu ensaio, A obra de arte na era de sua
reprodutibilidade técnica, pretende indicar a mudança sofrida pela arte por
causa da influência técnica. Benjamim utiliza alguns conceitos no ensaio que
permitem um melhor entendimento de suas ideias, como o conceito de aura. O autor expõe aquilo que denomina
aura na obra de arte e sua destruição mediante o processo de reprodução
técnica. No que consiste, então, esse conceito? Benjamim entende a aura como um
fenômeno que existe tanto na arte quanto na natureza, caracterizado pela
inacessibilidade, autenticidade e originalidade dos objetos e de sua percepção.
Com o advento da modernidade e das novas condições de produção, os objetos
passam a ser reproduzidos desenfreadamente e tal reprodução acaba por
interferir na aura do objeto, ou seja, nos três elementos que determinam sua
essência: inacessibilidade, autenticidade e originalidade. Com isso, a
reprodução técnica leva à destruição da aura do objeto e provoca alterações na
recepção e percepção técnica da obra pelo público consumidor.
As reflexões de Benjamim, por
mais que datadas da primeira década do século XX, continuam pertinentes nos
dias atuais, quando nos deparamos com um universo tecnológico que evolui a cada
dia e que interfere na forma de recepção e percepção da realidade. Através de
uma simples navegação na internet podemos “visitar” o interior da Capela
Sistina, por exemplo, e desfrutar daquele ambiente fascinador. Ao mesmo tempo
nos perguntamos: o que perdemos com a visualização de todas aquelas pinturas
pela tela de um computador ou o que ganhamos com sua contemplação a olho nu?
Com certeza, o fascínio de estar no interior da Capela Sistina só é possível
pela aura que o ambiente carrega, e o alcance total dessa aura não acontece por
meio da reprodução virtual daquele lugar.