sábado, 31 de maio de 2014

Estética e Anestética na Música

                                               Caroline Bacelar, Isadora Canela e  Mariana Elian

Escrito há  quase 80 anos, o texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”  de Walter Benjamin continua atual. Em sua obra, o autor, diferente dos outros membros da escola de Frankfurt, acreditava que as novas tecnologias de reprodução artística e cultural – como, na época, a foto e o  cinema – poderiam ser utilizadas em prol do sistema cognitivos, social, político e artístico.

Em sequencia, Benjamin estabeleceu dois contextos distintos para o uso da cultura de massa: a estetização da política e a politização da arte. O primeiro conceito refere-se à utilização das novas tecnologias para maquiar a realidade da política vigente. Em exemplo, o autor cita o fascismo, sendo ele  “uma violação do aparato técnico, paralela a sua violenta tentativa de organizar as massas recém proletarizadas”.  Em outras palavras, os novos meios de comunicação eram utilizados para estetizar a política, o que gera a alienação da população. Atualmente, ainda pode-se perceber exemplos de estetização da política através dos meios de comunicação, como a música.

Ano passado, a população brasileira, indignada com a realidade do país, vivenciou diversas manifestações em grande parte do território. A indignação se estendeu aos dias atuais: parte da população se mostra contrária à realização da Copa do Mundo de Futebol em terras tupiniquins. Trechos como “Juntos vamos fazer/ o sonho acontecer./ Seja em qualquer lugar/ a galera vai cantar/ Eu quero gol!”, extraído da música “Todo Mundo” de Gaby Amarantos e Monobloco podem maquiar a realidade que está sendo vivida. Um exemplo de estetização da política.

Já a politização da arte, segunda Benjamin, seria a incorporação da crítica e do raciocínio lógico nas reproduções das novas mídias. Essa foi a solução do autor para afirmar a cultura de massa entre os membros da escola de Frankfurt. Para contrapor, a música “Copa-cola” da banda independente Dom Pepo, critica a realização da Copa no Brasil. Essa crítica pode ser percebida em: “Pague pra ver/ o Brasil inteiro/ Abrindo as pernas pra Europa/ Qualquer negócio a gente topa/ só pra sediar a copa”. Este é um exemplo da politização da arte na música, como forma de construção do pensamento crítico.


Entretanto, a autora Susan Buck-Morss em seu artigo “Estética e anestética: uma reconsideração de A Obra de Arte de Walter Benjamin” publicado em 1992 encontra um problema na teoria da politização da arte. Segundo ela, se é necessária a presença da crítica para tornar a cultura de massa produtiva, a arte pela arte é abandonada. Em outras palavras, a sensibilidade – o ato de sentir a arte – é esquecido. Por exemplo, uma música instrumental, um jazz ou qualquer outra cadência harmônica que o objetivo não seja a lógica não fariam sentido.

Dessa forma, enquanto a estetização da política causa alienação, a radicalização da politização da arte gera anestesia. Portanto, a autora defende que os dois extremos não limitam a experiência artística, porque eles coexistem.

 O conceito original de estética remete à experiência sensorial, o que precede a lógica, o sentir de fato antes da própria significação de qualquer cunho seja ele político, social ou econômico. Como na semiótica, a estética é o primeiro signo, antes de sua interpretação e significação.

Entretanto, Susan afirma que o conceito de estética foi alterado na modernidade devido ao mito da autossuficiência. Diante da industrialização e das grandes guerras, o homem passa a se comportar com uma estratégia de defesa ilusória do não sentir. Dessa forma, há a criação do mito narcisista em que, diante de determinada situação em busca de segurança da psique o homem passa a exaltar o afastamento dos sentidos. O esteticamente bonito passa a ser aquele que não se esquiva para seus sentimentos. Nesse momento, a estética é considerada o seu oposto: a anestética, aquilo que está anestesiado.

Atualmente, também nos encontramos anestesiados. Uma das razões pode ser o caos de informação que vivenciamos. Em meio a tanta informação, o homem passa a ignorá-las, tornando-se um ser anestésico. Reproduzindo as palavras de Susan:
“A questão já não é educar o ouvido rude para ouvir música, mas desenvolver a audição.  Já não se trata de treinar o olho para ver a beleza, mas de reestabelecer a perceptibilidade”.

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