terça-feira, 3 de setembro de 2013

Heitor dos Prazeres, um homem do povo

Bruno Monteiro
     Nascido no Rio de Janeiro em 1898, apenas uma década depois do fim da escravatura, Heitor dos Prazeres viria a se tornar grande pintor e sambista, retratando com maestria a alegria e o sofrimento do povo brasileiro.
   Sua vida seguiu como a de qualquer menino do morro, ora trabalhava com o pai, aprendendo o ofício de marceneiro, ora estava vadiando nas regiões de malandragem do Rio. Seu primeiro contato com a arte foi através da música, aprendendo desde cedo a tocar cavaquinho e clarinete, entre sambas e marchinhas, que foram surgindo à medida que frequentava as rodas de samba, e o ambiente de boemia da cidade carioca.
   Nos anos 20, consolidado o seu envolvimento com o samba, tornou-se um dos fundadores da escola de samba ‘Estação Primeira de Mangueira’, e também da ‘Portela’, tendo inclusive composto músicas com grandes nomes, como Noel Rosa e Sinhô.
     Após a morte de sua esposa, com 39 anos de idade, Dos Prazeres passou a preencher o vazio através da pintura. Autodidata, começou pintando aquarelas sem técnicas especiais; depois passou para a pintura a óleo, aperfeiçoando seu próprio estilo até chegar às telas brilhantes e cheias de vida que se tornaram ícone da cultura popular carioca.


                                          Heitor dos Prazeres. Roda de samba

     Heitor dos Prazeres era homem do povo e sua obra retrata o diversificado contingente humano que habitava o Rio de Janeiro do início do século XX. Referenciava o homem como inspiração máxima de sua criação, como ele próprio afirma: “Meu nome é Heitor dos Prazeres, esse prazer que eu tenho no nome é o prazer que eu divido com o povo, com este povo eu reparto este prazer, este povo que sofre, que trabalha, este povo alegre é o que me obriga a trabalhar, a transportar para a tela a alegria e sofrimento deste povo”. 
     Em suas telas aparecem cenas do cotidiano carioca: favela, as brigas de malandros, rodas de samba, mulatas e outras trivialidades que, juntas, dão autenticidade e expressão à cidade do Rio.
Dos Prazeres se consagrou em vida, realizou exposições individuais e coletivas em diversas partes do Brasil, e participou das bienais de São Paulo de 1951, 1953 e 1963. Seus quadros estiveram também em exposições no exterior, onde chamaram a atenção devido à simplicidade e ingenuidade com que tratava os temas urbanos.


                                 Heitor dos Prazeres. Crianças Brincando

     Registrava com cores fortes e cheias de brilho a alegria e o lazer coletivos, o prazer da vida e o aproveitamento total de cada segundo como se fosse único. Sua pintura tem algo de peculiar, pois todos os elementos ali contidos são tratados detalhadamente e com igual importância, sendo possível notar uma imagem distante da realidade. Pessoas de todos os níveis sociais são desenhadas de perfil, tratadas como iguais, e sempre dando uma sensação de movimento, parecendo saltar da tela.
     Tanto a música quanto a pintura de Heitor dos Prazeres irradiam o calor humano e o apego à vida, constituindo uma visão idealizada da vida coletiva, e oferecendo um panorama cultural do modo de vida e das paisagens que se tornariam signos irrefutáveis da cultura popular carioca.



                                                     Heitor dos Prazeres. Lapa, boemia.

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